Setores corticeiro, papeleiro e de serviços ambientais ibéricos mais resilientes do que os europeus



As empresas ibéricas na área da impressão, produção de cortiça e serviços ambientais (incluindo as portuguesas Altri, Corticeira Amorim, Semapa e The Navigator) “provaram ser mais resilientes face à pandemia da COVID-19 e à guerra na Ucrânia do que as suas homólogas europeias”, de acordo com o “BCG Transform Index: The European Economy and the Resilience Imperative”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).

Em oposição, acrescenta a mesma fonte em comunicado, o setor Industrial peninsular “foi o mais abalado, fruto do impacto do aumento dos preços dos materiais de produção e da energia, bem como das perturbações na cadeia de abastecimento e do risco de recessão na Europa, ficando abaixo da média europeia”.

Em Portugal e em Espanha, o setor dos Metais e Mineração foi o mais resiliente – com uma pontuação alta em todas as dimensões (solvência, rentabilidade e estabilidade financeira), aproveitando o forte crescimento económico após a pandemia e o aumento de preços devido à oferta limitada no passado recente. Segue-se a indústria Química, que tem uma elevada pontuação em solvência e estabilidade financeira, beneficiando do alto grau de diversificação decorrente das potenciais aplicações dos seus produtos.

Em contraste, o setor de Tecnologia, Media e Telecomunicações (TMT) “deverá continuar a enfrentar desafios, em particular ao nível das dimensões do estudo de rentabilidade e estabilidade financeira, devendo manter-se alerta e adotar uma estratégia proativa, considerando lançar programas de transformação para melhoria da sua situação financeira”. Problema semelhante ao de Lazer e Turismo, que teve baixa classificação em rentabilidade e solvência. Contudo, o setor Industrial “foi, de longe, o setor mais abalado, tendo a pior classificação nas três dimensões consideradas – solvência, rentabilidade e estabilidade financeira – ficando abaixo da média europeia para este setor”.

A análise financeira teve como base dados públicos de 2018 até ao terceiro trimestre de 2022 e abrangeu dez setores (Metais e Mineração; Produtos Químicos; Automóvel; Consumo; Energia; Saúde; TMT; Lazer e Turismo; Indústria; e Outros), de 15 empresas portuguesas e 55 espanholas, cotadas na bolsa e com receita de pelo menos 500 milhões de euros, de um total de 1,373 empresas de 33 países europeus.

Receitas totais já ultrapassaram os níveis pré-pandemia, mas o EBITDA total ainda não recuperou

As receitas das empresas ibéricas ultrapassaram os níveis pré-pandemia, mas as margens EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ainda não recuperaram em todos os setores. Além disso, a dinâmica de crescimento dos lucros está a diminuir lentamente, em linha com a tendência europeia.

O estudo mostra ainda que 20% das empresas no território ibérico tem um “free cash flow” negativo – isto é, têm geração de caixa negativa – nos últimos 12 meses, valor inferior à média europeia (27%). Já a dívida líquida aumentou nos últimos 12 meses pela primeira vez desde 2019, sendo que apenas 20% da mesma é de “investment grade” – classificação que demonstra que um título apresenta um risco de incumprimento relativamente baixo -, o que é um valor muito inferior aos 45% médios a nível europeu.

Europa com sinais de alerta no horizonte

O estudo mostra ainda que as perspetivas para a economia e empresas europeias para este ano pioraram, fruto da instabilidade e da inflação. Por um lado, a maioria das indústrias teve uma forte recuperação após a crise de COVID-19, com o desempenho operacional a atingir recordes em vários setores e, até agora, não se assistiu a um declínio drástico como resultado da guerra na Ucrânia. Por outro lado, há sinais claros de alerta no horizonte: no geral, a liquidez está a cair pela primeira vez desde 2018, enquanto a dívida líquida continua a crescer para níveis históricos. Com um número crescente de empresas com “free cash flow” negativo, e a qualidade da dívida líquida a deteriorar-se – uma questão especialmente preocupante no atual ambiente de altas taxas de juros.

Alguns setores, especialmente indústrias básicas a montante, como Metais e Mineração, Produtos Químicos e Energia, têm-se mostrado mais resilientes nos últimos anos a nível europeu, mas estão dependentes da evolução do panorama económico.

O estudo identifica três principais estratégias que as empresas europeias, incluindo as portuguesas, devem implementar de forma a antecipar os desafios que estão iminentes e preparar um crescimento rentável a longo prazo, aumentando a sua resiliência:

  • Manter uma estrutura de custos lean: monitorizando o impacto da inflação e adaptando a estrutura de custos em conformidade, reavaliando o portfólio de produtos, e implementando medidas de poupança de custos;
  • Assegurar a estabilidade financeira: com foco na gestão do fluxo de caixa e na otimização do balanço para assegurar liquidez de curto prazo e mitigar efeitos resultantes do aumento das taxas de juro;
  • Aproveitar oportunidades de crescimento: transitando de uma estratégia reativa para uma proativa, que possa resistir a choques com maior facilidade e sustentar o crescimento mesmo em tempos turbulentos.

Em paralelo, “é também crucial trabalhar nos enablers, tais como ajustes no modelo operativo que promovam a resiliência, medidas para retenção de talento, e continuar a investir em inovação (p.ex., com recurso a AI)”.
A análise focada na Península Ibérica está disponível aqui, sendo também possível consultar o índice global.





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