‘Cric, cric, cric’: Grilos cortejam as fêmeas em uníssono, mas calam-se se um rival se aproximar muito



O som dos grilos, o facilmente reconhecível ‘cric, cric, cric’, é um de entre muitos que compõem as sinfonias do mundo natural. Se escutarmos com atenção, por vezes ouvimos, ainda que possamos não nos aperceber, vários grilos machos que, com a sua música, conhecida cientificamente como estridulação, querem atrair uma fêmea com a qual se possam reproduzir.

Uma equipa da Universidade de Exeter, no Reino Unido, passou perto de 50 dias a observar e a captar os sons de grilos-do-campo (Gryllus campestres) no norte de Espanha, numa área abrangida pelo projeto WildCrickets, que monitoriza as populações locais desses insetos através de videovigilância.

Grilos-do-campo machos, com identificações, foram estudados por investigadores da Universidade de Exeter no norte de Espanha.
Foto: Tom Tregenza (coautor do artigo) / Universidade de Exeter

Os cientistas perceberam que a estridulação dos grilos machos tem um ‘efeito de contágio’ noutros machos a uma distância entre um e cinco metros. Isso significa que existe uma grande probabilidade de um grilo macho começar a cantar se estiver a essa distância de outro macho que também o esteja a fazer, resultando num ‘coro de grilos’.

Acredita-se que, ao unirem as suas vozes, estes insetos aumentam a probabilidade de atraírem mais fêmeas para as suas áreas, uma situação que se pensa ser de ganho mútuo para os machos e em que se poderá provar o velho ditado de que ‘a união faz a força’.

No entanto, se os machos estiverem a menos de um metro de distância um do outro, o cenário é outro, e a probabilidade de cantarem será muito menor. Os investigadores sugerem que isso poderá dever-se ao facto de a proximidade entre os machos fazer com que concentrem os seus esforços na proteção do seu território ao invés de gastarem energia em cantorias.

Embora admita que se sabe que as exibições dos machos para atrair fêmeas são bastantes comuns na Natureza, Joe Wilde, principal autor do artigo publicado na ‘Animal Behaviour’, afirma que sabemos ainda muito pouco sobre como e porquê os animais “ajustam taticamente” esses comportamentos no seu ambiente natural.

“Para os grilos, cantar é uma atividade energeticamente intensiva, e os machos têm de decidir quando estridular e quando ficar em silêncio”, aponta Wilde. O investigador reconhece que não podem afirmar com certeza a razão pela qual os machos a menos de um metro de distância uns dos outros cantem menos, mas “é provável que decidam combater os rivais que se aproximem muito da sua toca”.

Ainda assim, apesar dos resultados das observação feitas em Espanha, os investigadores dizem que é preciso mais trabalho científico para que seja possível confirmar que os grilos machos deixam de estridular quando potenciais rivais se aproximam demasiado das suas tocas e como é que essa tática se desenvolveu ao longo da história destes insetos ruidosos.





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