Nas florestas tropicais, as árvores também praticam o ‘distanciamento social’



Quando pensamos em florestas tropicais, é usual formarem-se na nossa mente imagens de áreas de vegetação densa e mantos quase ininterruptos formados por copas arbóreas amplas e frondosas. Em espaços tão densamente povoadas, os indivíduos da mesma espécie têm de assegurar que não estão demasiado próximos uns dos outros, ou arriscam-se a competir com os seus pares pelos mesmos recursos, podendo colocar em risco a sua sobrevivência e a estabilidade da população.

Através de uma investigação realizada na ilha de Barro Colorado, área com o tamanho de 100 campos de futebol, no Canal Panamá, uma equipa liderada por cientistas das universidades do Texas e o Michigan descobriram, com base em dados recolhidos na região ao longo de 30 anos, que as árvores adultas da mesma espécie estão três vezes mais distantes entre si do que das de outras espécies.

O que é mais surpreendente é o facto da distância a que as árvores de uma mesma espécie estão entre si é superior àquela que, por norma, as suas sementes conseguem viajar depois de se desprenderem ou serem retiradas da árvore-mãe.

Os investigadores sugerem que as árvores nesse local tendem a ser muito mais negativamente afetadas pela concorrência por parte de outros membros da sua própria espécie do que por membros de outros, pelo que quanto mais longe melhor.

Além disso, acreditam que esta estratégia de repulsão serve também para salvaguardar a saúde e aumentar a probabilidade de sobrevivência da espécie. Isto, porque se estiverem muito próximas umas das outras, doenças que afetam essa espécie podem propagar-se mais facilmente, colocando em risco a população local desse grupo específico.

Como consequência, é possível ter uma maior diversidade de espécies, ao invés de uma zona dominada por apenas uma ou outra espécie, aumentando a vulnerabilidade do ecossistema em caso de surtos de patógenos ou da predação de herbívoros. Parece ser uma confirmação da máxima ‘dividir para conquistar’, e, neste caso, para sobreviver e prosperar.

“As árvores são os engenheiros que fornecem recursos para todo o ecossistema, e, como a maior parte das espécies do mundo vive nos trópicos, temos de perceber o que mantém a biodiversidade do planeta Terra”, salienta Michael Kalyuzhny, primeiro autor do artigo publicado esta semana na ‘Science’.

Para o investigador, num cenário de alterações climáticas velozes, e sabendo que as florestas tropicais são ‘pontos quentes’ de diversidade biológica, peças fundamentais dos sistemas naturais e importantes fontes de medicamentos, saber como se constrói a diversidade desses locais é fundamental para melhor protegê-las dos impactos da ação humana.





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