Mesmo tratadas, as águas residuais têm impactos na biodiversidade dos rios
Num planeta em que a água potável é um recurso cada vez mais escasso, fruto dos efeitos das alterações climáticas, o tratamento de águas residuais é crucial para assegurar o abastecimento das populações humanas, bem como os animais e culturas que elas têm a seu cargo.
No entanto, mesmo depois de tratadas, essas águas podem afetar a diversidade de vida que caracteriza os rios quando nele são descarregadas. Esta é a principal conclusão de uma recente investigação liderada por cientistas da Universidade Goethe, em Frankfurt, na Alemanha, que se focou em 176 estações de tratamento de águas residuais (ETARs) na região alemã de Hesse.
Num artigo publicado na revista ‘Water Research’, os investigadores argumentam que, mesmo após os tratamentos, algumas substâncias conseguem entrar no ciclo hidrológico e afetar a composição de organismos que habitam os ecossistemas fluviais.
Os autores escrevem, não disputando a importância dessas centrais, que a capacidade das ETARs para removerem complementa micropoluentes das águas residuais é limitada, pelo que ingredientes de produtos farmacêuticos, de produtos de cuidado pessoal (como maquilhagem e cremes) e de pesticidas usados na agricultura acabam por entrar nos rios e outros cursos de água.
Os investigadores consideram que isso agrava ainda mais as ameaças enfrentadas por comunidades de insetos e outros animais aquáticos que já estão vulneráveis a uma série de outros riscos, como as alterações climáticas.
Ainda assim, os impactos dessas descargas de águas residuais não provocam necessariamente a devastação da fauna dos sistemas fluviais, mas sim uma transformação da sua composição. Embora algumas espécies de invertebrados tendam, de facto, a desaparecer, outras, como algumas minhocas e crustáceos, mais resistentes a essas mudanças ambientais, prosperam e aumentam de número.
Por isso, os investigadores concluem que, “de um modo geral, as estações de tratamento de águas residuais alteram as condições a jusante” em benefício de espécies com maior tolerância a substâncias tóxicas, mas em detrimento de outras mais sensíveis.
A solução? A equipa indica que, por exemplo, a implementação de filtros de carvão ativo pode tornar o tratamento de águas residuais mais eficiente, reforçando a capacidade de remoção de poluentes e impedindo que cheguem aos ecossistemas.