Zero diz que Portugal tem “um caminho longo a percorrer” na sustentabilidade



A associação ambientalista Zero considerou ontem que Portugal “ainda tem um longo caminho a percorrer” no que toca à sustentabilidade, sublinhando que são necessárias ações estruturais e mudanças na distribuição do rendimento e de integração dos custos ambientais.

O apelo da Zero surge na véspera do Dia Nacional da Sustentabilidade, que se comemora, pela primeira vez, em Portugal, considerando que “há pouco de sustentabilidade a celebrar num país que requer três planetas para alimentar a sua pegada ecológica anual”.

“O que os dados nos indicam é que fazer mais do mesmo, ou intensificar algumas ações aqui e ali não será suficiente para que Portugal possa ser considerado sustentável. São necessárias ações estruturais e mudanças em termos de distribuição do rendimento, de integração dos custos ambientais, de reflexão conjunta sobre as soluções necessárias para que a sustentabilidade se torne uma realidade”, defende a Zero, em comunicado enviado à agência Lusa.

A associação ambientalista admite que muitas das alterações que reivindica “terão implicações em poderes instalados e serão contrárias aos interesses de lóbis, que muito têm beneficiado com o atual insustentável modelo de produção e consumo”.

No sentido de melhorar a sustentabilidade ambiental de Portugal, a Zero aponta algumas medidas, como a aposta numa agricultura promotora da soberania alimentar, o aproveitamento do potencial de redução de deslocações e viagens, e investir de forma decisiva na criação de infraestrutura que permita uma muito mais significativa utilização de modos suaves de transporte.

Além disso, esta associação entende que se deve regulamentar para que os produtos colocados no mercado sejam sustentáveis, assim com como promover uma nova abordagem económica, apostando na economia do bem-estar.

A Zero apela ainda a que se reduza a presença de proteína animal na alimentação, que as pessoas se movimentem de forma sustentável, e que se consuma de forma mais circular e consciente, para que se mude o paradigma do “usar e deitar fora”.

Numa análise recente feita pela Zero a vários indicadores ambientais, sociais e económicos, usando como comparação a média comunitária ou a média da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, demonstrou que há ainda muito por fazer.

“Seja na componente do combate às múltiplas desigualdades – de rendimento, de género, de acesso à informação, à educação, à saúde e à qualidade de vida – seja no estímulo a um modelo económico diferente, onde outras formas de economia – locais, sustentáveis, partilhadas, inclusivas – são potenciadas”, salienta a Zero.

Também na área da saúde, a balança alimentar portuguesa indica que consumimos cerca de três vezes a proteína animal que deveríamos, mas somos deficitários no consumo de legumes, frutas e leguminosas, logo, privilegiamos o consumo dos alimentos com maior pegada ecológica, sustenta a Zero.

Na área da mobilidade, por exemplo, acrescenta a associação, apenas 9,7% do consumo final bruto de energia nos transportes provém de fontes renováveis, segundo dados do Eurostat, o que demonstra as lacunas que o nosso país apresenta neste domínio.

“Também ao nível da eficiência e circularidade no uso dos recursos/materiais, Portugal situa-se muito abaixo da média da União Europeia (2,2% vs 13%), o que quer dizer que apenas 2% dos materiais que entram na economia acabam a ser reintegrados na mesma após chegarem ao fim do seu primeiro ciclo de vida, o que deixa a nossa economia ainda mais exposta à volatilidade dos mercados internacionais”, lê-se ainda no comunicado.

A Zero reconhece os bons resultados de Portugal ao nível das energias renováveis, mas ainda insuficientes face à dependência do exterior.





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