O pólen não engana: Humanos chegaram mesmo à América do Norte milhares de anos antes do que se pensava



Em 2021, uma investigação do serviço geológico dos Estados Unidos da América (EUA) sugeriu que pegadas humanas fossilizadas descobertas no Parque Nacional de White Sands, no estado no Novo México, no sudoeste do país, tinham entre 21.000 e 23.000 anos.

Até essa altura, o consenso científico apontava que os humanos teriam chegado à América do Norte no máximo há 16.000 anos e no mínimo há 13.000. Agora, um novo estudo vem confirmar que, de facto, nós chegámos a esse continente há 20.000-23.000 anos, o que, de acordo com os autores de um artigo publicado na semana passada na revista ‘Science’, mostra que os primeiros habitantes humanos norte-americanos terão convivido, lado a lado, com a megafauna que já aí vivia, até ao evento de extinção em massa do Pleistocénico ter erradicado esses animais da paisagem ancestral.

Pegadas humanas fossilizadas encontradas no Parque Nacional de White Sands, no estado no Novo México, no sudoeste dos EUA.
Foto: U.S. Geological Survey (USGS) / Facebook

Diz Jeff Pigati, investigador do serviço geológico dos EUA e primeiro autor do artigo, que “a reação imediata em alguns círculos da comunidade arqueológica foi que a precisão da nossa datação não era suficiente para fazer a declaração extraordinária de que os humanos estavam presentes na América do Norte durante o Último Máximo Glacial”, um período que em que, há cerca de 22.000 anos, a Terra estava praticamente toda coberta de gelo.

Contudo, acredita agora que “a nossa metodologia direcionada nesta atual investigação deu frutos”, uma vez que veio confirmar a datação que tinha sido anunciada há dois anos.

Os investigadores usaram sementes de plantas aquáticas e grãos de pólen de coníferas para determinarem a idade das pegadas.
Foto: U.S. Geological Survey (USGS) / Facebook

Para aferirem a idade das pegadas, os investigadores recorreram a técnicas de datação por radiocarbono, usando, para tal, sementes de uma planta aquática, a Ruppia cirrhosa, que foram encontradas nas impressões fossilizadas. No entanto, como as plantas aquáticas podem também absorver carbono dissolvido na água, e não apenas o que estão no ar, algumas vozes lançaram dúvidas sobre a precisão dos resultados do primeiro estudo.

Para resolver o problema, os investigadores viraram-se para a análise de grãos de pólen fossilizados de plantas terrestres, em particular de coníferas. Depois de recolherem e analisarem cerca de 75 mil grãos de pólen, todos recolhidos nas mesmas camadas em que tinham sido encontradas as primeiras sementes, perceberam que a datação obtida era exatamente a mesma.

Além de fornecerem respostas sobre quando as pegadas humanas foram feitas, os minúsculos grãos de pólen deram ainda pistas sobre o ambiente que então caracterizava esse local: frio e húmido, verdadeiras condições glaciais. Esse cenário contrasta vividamente com o atual ambiente seco e desértico que hoje se pode observar em White Sands.





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