Nova espécie de caracol marinho batizada com nome de famoso cocktail



As Florida Keys são um conjunto de ilhas tropicais ao largo da costa sudeste dos Estados Unidos da América (EUA), e são também o único local no território continental desse país onde é encontrada uma barreira de coral. Nela ocorre uma grande diversidade de criaturas marinhas, algumas das quais não são encontradas em mais nenhum lugar no planeta.

Uma delas é uma espécie que foi recentemente descoberta nesse arquipélago: um caracol marinho com uma coloração amarelada e que está munido de um par de tentáculos longos que usa para criar redes de muco que capturam as presas de que se alimenta.

Foi batizada com o nome científico Cayo margarita, uma referência à música ‘Margaritaville’, do cantor norte-americano Jimmy Buffet, que fala do famoso cocktail tropical que tem o limão como protagonista e que é associada às Florida Keys, local onde a nova espécie foi documentada por uma equipa de investigadores dos EUA, Austrália e Canadá.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘PeerJ’, os cientistas descrevem essa nova espécie como sendo parente, ainda que afastada, dos caracóis terrestres que vemos nos nossos jardins e que, no seu encalço, deixam rastos de muco.

A mesma investigação dá conta da descoberta de uma outra espécie, também do género Cayo, com traços semelhantes à C. margarita, mas que ocorre no Belize e exibe tons mais esverdeados: a C. galbinus. Ambos pertencem a um grupo de caracóis marinhos conhecidos por passarem a maior parte das suas vidas em apenas um local. Por isso, dependem dos seus dois tentáculos para capturarem presas e alimentarem-se.

Análises de ADN revelaram que, afinal, existem duas espécies de caracóis marinhos com coloração semelhante. Nesta fotografia, a espécie Cayo galbinus, encontrada no Belize e com uma cor mais esverdeada do que a C. margarita, mais amarelada.
Foto: Rüdiger Bieler

Rüdiger Bieler, curador de invertebrados do Museu Field de História Natural, em Chicago (EUA) e primeiro autor do artigo, explica que esses gastrópodes dos mares, ao contrário dos seus parentes terrestres, quando jovens, encontram um local que lhes agrada, fixam a sua concha ao substrato rochoso e “nunca mais se movem”.

“A sua concha continua a crescer como um tubo irregular em torno do corpo do caracol, e o animal caça tecendo uma teia de muco para aprisionar plâncton” e detritos que flutuam na corrente, salienta o especialista.

Por serem pequenos e por se fundirem, quase literalmente, com o meio envolvente, estes caracóis têm conseguido escapar ao olhar dos cientistas, pelo menos até agora.

Inicialmente, os investigadores tinham assumido que o C. margarita e o C. galbinus pertenciam à mesma espécie, pois não é invulgar, no mundo dos caracóis marinhos, indivíduos da mesma espécie apresentarem cores diferentes. “Penso que o fazem para confundir os peixes e não lhes dar um alvo claro, e alguns têm colorações de aviso”, aponta Bieler.

No entanto, após análises ao ADN de exemplares recolhidos no Belize e nas Florida Keys, a equipa percebeu estar, realmente, perante duas espécies distintas, embora pertencendo ao mesmo género.

Os caracóis Cayo, tal como os do género Thylacodes, costumam ser avistados a espreitarem das duas conchas tubulares, com as suas cabeças de cores garridas, pelo que os investigadores acreditam que a coloração tem, de facto, uma função de aviso para os predadores que deles quiserem fazer um petisco.

Bieler diz que esses invertebrados têm no seu muco substância de sabor desagradável para aqueles que escolham ignorar o dissuasor visual.

Para os autores desta investigação, os resultados, além de aumentarem o conhecimento científico, pretendem chamar a atenção para a biodiversidade dos recifes de coral, habitats e ecossistemas fortemente impactados pelos efeitos das alterações climáticas, como a acidificação dos oceanos e a subida da temperatura marinha.

“Têm havido aumentos globais da temperatura da água e algumas espécies consegues tolerá-los melhor do que outras”, diz o cientista, que acrescenta, como nota de aviso, que os caracóis Cayo tendem a viver em fragmentos de corais mortos, pelo que, à medida que mais recifes são devastados, por exemplo, pelo aquecimento dos oceanos, é possível que, num futuro talvez não muito distante, se possa assistir a uma proliferação das populações desses caracóis.





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