Como as alterações climáticas podem estar a ‘mudar’ as cores das comunidades de libélulas
Ao longo do ano, a predominância das espécies nas comunidades de libélulas vai variando, ‘pintando’ as paisagens com diferentes cores à medida que as estações se sucedem umas às outras. E o fenómeno está relacionado com a quantidade de radiação solar que chega à Terra.
Uma equipa de investigadores da Alemanha, num artigo publicado na revista ‘Nature Communications’, revela que na primavera e no outono as espécies de libélulas mais escuras, como a Leucorrhinia dubia e a Sympetrum danae, tendem a predominar. Durante os meses mais quentes do verão, as que têm cores mais claras, como a Orthetrum coerulescens, tendem a ser mais abundantes.
De acordo com os cientistas, as cores ajudam os insetos a regular a sua temperatura corporal. As mais escuras absorvem maiores quantidades de radiação solar, pelo que se dão melhor mesmo em estações mais frias, ao contrário das libélulas com cores mais claras, que se dão melhor com o tempo mais quente.
Assim, tal como investigações anteriores já haviam revelado, nas regiões mais a norte do planeta, as comunidades de libélulas tendem a ser compostas por espécies maioritariamente escuras e de maiores dimensões, pois são capazes de reter melhor o calor. Por sua vez, as espécies de libélulas de cores mais claras tendem a ser mais abundantes no sul, nas zonas mais quentes.
Este mais recente trabalho teve por base a análise de dados resultantes da observação de comunidades de libélulas no Reino Unido entre 1990 e 2020, através do qual os cientistas confirmaram que as cores que predominam nas comunidades de libélulas, de facto, mudam com as estações do ano.
Dessa forma, argumentam que esta é a primeira vez que se prova que as cores das comunidades de libélulas não variam só entre regiões, mas também consoante os meses.
Além disso, ao olharem para os últimos 30 anos, conseguiram perceber que também os efeitos das alterações climáticas podem estar a afetar as variações de cores. Os investigadores indicam no artigo que, no decurso desse período, as comunidades de libélulas têm vindo a ser compostas por cada vez mais espécies de cores claras, mesmo nos meses de menor radiação solar, algo “presumivelmente associado ao aquecimento global”.
À medida que a temperatura média do planeta aumenta, será de esperar que as espécies que melhor consigam libertar calor, as mais claras, se deem melhor. Contudo, essas espécies podem estar mal-adaptadas para voarem nos meses associados às estações mais frias.
“O aquecimento pode mesmo estar a mudar o padrão de uma forma que seja desfavorável para as libélulas, porque elas deixam de voar em condições ideais de radiação solar”, explica, em comunicado, Roberto Novella Fernandez, da Universidade Técnica de Munique e primeiro autor do artigo, acrescentando que o próximo passo da equipa é perceber melhor como as alterações climáticas estão a influenciar a abundância das espécies de libélulas nas várias estações do ano.
“Ao associar mudanças nas características das espécies, como a coloração dos insetos, a mudanças ambientais, podemos compreender melhor as causas da perda de biodiversidade”, afirma Christian Hof, outro dos autores.