Ativistas climáticos vão procurar cada vez mais mudar as organizações de dentro para fora



À luz de cenários de agravamento das alterações climáticas e de todos os efeitos disso resultantes, as vozes que se fazem ouvir em prol da proteção do planeta são cada vez mais audíveis e os repertórios de atuação são muito diversos.

Tradicionalmente, a luta climática tem sido feita de fora para dentro, ou seja, os ativistas têm criado grupos e comunidades exteriores às organizações a partir das quais exercem pressão – política, social – para fazê-las mudar a forma como tratam e lidam com a Terra e os sistemas de vida que a constituem.

Agora, uma nova investigação revela que os ativistas climáticos poderão vir a adotar cada vez mais estratégias de luta ‘internas’, procurando mudar as organizações a partir de dentro.

Num artigo publicado na revista ‘Humanities and Social Sciences Communications’, investigadores das universidades de Exeter (Reino Unido) e Aarhus (Dinamarca) dizem que a nova tipologia de ativistas, os ‘insiders’, “tornar-se-á uma importante nova avenida para o ativismo climático” e uma forma de continuar a luta em contextos de crescente oposição ao “ativismo climático tradicional a partir de fora”.

Os autores descrevem que os ativistas ‘insiders’ tendem a colaborar e a formar grupos com outros membros das organizações e empresas em que trabalham como forma de impulsionar as mudanças que consideram necessárias.

“Descobrimos que alguns ativistas usam as ferramentas da discussão e da persuasão para influenciar outros a fazerem mudanças. Grupos de ativistas com as mesmas ideias formam grupos de pressão que procuram mudanças nos outros através da mobilização, protesto simbólico e do discurso racional, chamando a atenção para injustiças, desequilíbrios e outros focos ativistas”, explica, em comunicado, Nick Kirsop-Taylor, primeiro autor do artigo.

O investigador em política ambiental e climática afirma que alguns ativistas, por agirem dentro das duas organizações e empresas, podem colocar as suas posições profissionais em risco ao operarem a partir de dentro.

Através da revisão de quase 50 estudos já realizados sobre o ativismo climático e os perfis dos ativistas, Kirsop-Taylo argumenta que “alguns indivíduos adotam a perspetiva filosófica de que o confronto é a forma mais eficaz de mudar os outros. Raramente trabalham verdadeiramente isolados, mas podem desafia e contestar as opiniões, posições e privilégios de outros e procurar envergonhá-los ou forçá-los a mudarem, ao invés de através da razão e do diálogo”.

E acrescenta: “Onde e quando os críticos que procuram a mudança nos outros se unem e se ligam em rede com indivíduos que partilham as mesmas ideias, podem formar movimentos sociais que se esforçam e assumem riscos coletivamente pela sua causa comum”, o que pode passar pela “desobediência civil em massa e, em alguns casos, até mesmo ações diretas violentas e não-violentas na prossecução da sua causa”.





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