Encontro Nacional em Defesa das Árvores reúne cidadãos e especialistas no Entroncamento



O primeiro Encontro Nacional em Defesa das Árvores realiza-se, no sábado, no Entroncamento, juntando organizações não-governamentais (ONG), académicos e profissionais para debater a “floresta sustentável e a mitigação dos incêndios”, refere a comissão organizadora.

O encontro, promovido pelo Grupo dos Amigos das Árvores de Sintra (GAAS), Grupo Ecológico de Cascais (GEC) e Plataforma em Defesa das Árvores, em parceria com Carruagem 23 – Artes no Entroncamento, pretende “debater os conhecimentos científicos ao serviço da floresta sustentável e a mitigação dos incêndios em regiões rurais e estradas, bem como a legislação que sustenta os planos de ação de gestão de combustível”, explicam as organizações.

Segundo avançou à Lusa Florbela Veiga Frade, do GAAS, a ideia do encontro surgiu na sequência da contestação contra o corte de arvoredo na Estrada Nacional 247, na serra de Sintra, promovido pela Infraestruturas de Portugal (IP), em faixas de gestão de combustível, ao longo de uma estrada “considerada emblemática e o abate daquelas árvores todas provocou uma comoção entre associações e cidadãos”.

Apesar das reuniões solicitadas à IP e ao Instituto de Conservação da Natureza (ICNF), apenas este organismo aceitou o pedido, alegando que os trabalhos decorreram de “decisões legais, embora subsistam dúvidas” sobre o processo de adjudicação do corte das árvores, nomeadamente quanto aos pareceres prévios “já estarem caducados”.

O encontro, no Estúdio 121, no Euro Shopping, entre as 10:00 e as 17:00, contará com intervenções de Joaquim Sande Silva, especialista na Ecologia do Fogo e professor na Escola Superior de Agronomia de Coimbra, de Hélder Joia Silva, silvicultor e presidente da direção da Associação Humanitária BCV de Oeiras, e de Pedro Jordão, advogado, membro de várias associações ambientalistas.

Durante a tarde está programada uma mesa-redonda com Paulo Pimenta de Castro, silvicultor e presidente do Grupo Acréscimo e Íris, Domingos Lopes, professor na Universidade de Trás-os-Montes, Domingos Patacho, representante da associação ambientalista Quercus, e moderação de Florbela Veiga Frade.

Um painel aberto com intervenção das associações inscritas, moderado por Inês Beleza Barreiros, da Plataforma em Defesa das Árvores, e um espaço para sugestões para um Plano de Ação completam o programa.

“Na parte da manhã serão os especialistas a falar sobre legislação, gestão de florestas, sobre problemas de incêndios, e à tarde faremos uma mesa-redonda” e, “por fim, a parte mais importante será as associações juntarem-se e falarem sobre a sua experiência e tentarmos arranjar ali sugestões de ações futuras, o que é que poderemos fazer para alterar esta situação”, disse Florbela Veiga Frade.

De acordo com Rosa Casimiro, da Plataforma em Defesa das Árvores, o encontro pretende “perceber se pode fazer ou não sentido um movimento nacional que tente pôr algumas regras” no que se passa, pois “não há legislação de defesa das árvores em Portugal”.

“As árvores não são entidades protegidas, a não ser as árvores classificadas, têm que ser consideradas muito excecionais, aí têm o estatuto de património e estão protegidas, mas não são as únicas árvores que merecem proteção”, considerou a ativista.

Com exceção do sobreiro, azinheiras e árvores classificadas, Rosa Casimiro frisou que, “em Portugal, falta legislação para proteger as árvores”, e “quando há, não se cumpre”.

“Este tipo de intervenções devia ter regras, devia haver acompanhamento, para já devia haver informação, as pessoas deviam ser avisadas que vão abater não sei quantas árvores”, defendeu.

A ativista lembrou que, perante “os problemas ambientais” atuais, a ciência diz “que as árvores são os principais garantes de mitigação de efeitos”, nomeadamente das alterações climáticas.

A porta-voz do GAAS salientou que, “por um lado, há uma aposta de que a árvore é um bem essencial, quer na retenção de carbono, quer na paisagem, quer em termos ambientais e, por outro, as leis [de gestão de combustíveis] levam a limpeza a 10 metros das faixas de rodagem, o que é arrasar praticamente com a floresta toda”.

“E depois temos a aplicação desta lei a sítios que não devia ser aplicada, ou seja, por exemplo, o Parque Natural de Sintra-Cascais, que é uma zona protegida, de paisagem protegida”, acrescentou Florbela Veiga Frade, defendendo outras regras para as áreas classificadas, pois também existe o “direito à paisagem”, com “floresta e também árvores adultas e saudáveis”.





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