Desmantelar o comércio ilegal de papagaios



As bases de dados de ADN são frequentemente utilizadas pela polícia para localizar criminosos no local do crime, mas os investigadores da Universidade Nacional Australiana (ANU), em colaboração com a King’s Forensics no Reino Unido, estão a utilizar tecnologia de ponta de sequenciação genómica de baixo custo para salvar papagaios traficados apanhados no comércio ilegal de animais selvagens.

O investigador-chefe, George Olah, afirmou que o conjunto de ferramentas genómicas forenses é semelhante à base de dados I-Familia da INTERPOL, utilizada para identificar pessoas com base em correspondências internacionais de ADN.

Olah deslocar-se-á à Indonésia no próximo mês para trabalhar com as autoridades locais e os investigadores no combate ao comércio ilegal de papagaios, que é frequente no país. Segundo os investigadores, a Indonésia foi identificada como o país de maior prioridade para a conservação dos papagaios.

“Este projeto de investigação é como o CSI, mas para papagaios”, disse Olah, da ANU Fenner School of Environment and Society, sublinhando que, “para a vida selvagem comercializada, ainda não dispomos de uma base de dados de ADN amplamente utilizada, como a que a INTERPOL está a utilizar, por exemplo, para identificar pessoas desaparecidas através da cooperação policial internacional.

“Quando a tivermos, poderemos analisar a rede de comércio, mostrando que aves provêm de que ilhas”, assegurou, acrescentando que “esperamos que, ao fim de alguns anos, tenhamos um mapa que mostre as principais rotas comerciais, para que as autoridades se possam concentrar nessas ilhas e trabalhar com as comunidades locais para ver quem está por detrás da caça furtiva e porquê”.

“Os papagaios estão, em número, entre as aves mais traficadas no comércio ilegal de animais selvagens”, revelou ainda.

Os investigadores irão recolher amostras de espécies ameaçadas, como a catatua de crista amarela ou o Eclectus de Sumba, através de uma pena ou de uma gota de sangue retirada de um filhote. De seguida, sequenciarão o ADN das aves utilizando a tecnologia de nanoporos.

Os dados serão depois introduzidos numa base de dados genéticos que as autoridades policiais de todo o mundo poderão consultar quando investigarem papagaios que pensem terem sido retirados ilegalmente da natureza.

O conjunto de ferramentas também facilitará a reintrodução de papagaios confiscados, ajudando a recuperar as populações selvagens depauperadas.

“Atualmente, pode haver uma confiscação de papagaios em Java, mas ninguém sabe de onde foram retirados na natureza, pelo que acabam em centros de salvamento. Visitei alguns desses centros e, frequentemente, estão muito cheios”, afirmou Olah.

“Mas se conseguirmos provar às autoridades que as aves vieram de uma determinada ilha, então, após um exame médico e testes de doenças, podemos facilitar a sua transferência de volta para lá”, adiantou.

Olah disse ainda que, para além de ser uma ameaça à biodiversidade, o tráfico de animais selvagens é cada vez mais um problema de saúde pública global devido ao seu papel na propagação de doenças zoonóticas.

“Trata-se de um problema enorme, não só para esta região, mas também a nível mundial”, afirmou.

“Por isso, se soubermos mais sobre o mercado ilegal da vida selvagem, podemos salvaguardar não só a vida selvagem, mas também os seres humanos”, acrescentou.

Inicialmente, a equipa de investigação centrará os seus esforços no comércio ilegal de papagaios na Indonésia, mas planeia colaborar com outros países com pontos críticos de comércio, ao mesmo tempo que implementa a base de dados na Austrália.





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