Mercado voluntário de carbono deverá valorizar entre 10 e 40 mil milhões de dólares até 2030



O mercado voluntário de carbono deverá crescer entre 10 e 40 mil milhões de dólares até 2030, tendo já quadruplicado o seu valor entre 2020 e 2021, atingindo 2 mil milhões de dólares, de acordo com o estudo “Unearthing Soil’s Carbon-Removal Potential in Agriculture”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).

Segundo a mesma fonte, este mercado tem sido marcado pelo papel chave dos solos enquanto principais retentores de carbono e pela emergência de práticas inovadoras que reforçam as suas potencialidades, impulsionando o desenvolvimento de novos registos de créditos de carbono para incentivar iniciativas sustentáveis, sobretudo no setor agrícola.

“O crescente peso da sustentabilidade nas discussões estratégicas corporativas tem incentivado a procura por soluções inovadoras, rápidas e eficazes para atingir a neutralidade carbónica”, afirma Manuel Luiz, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa. “Neste contexto, uma nova geração de soluções tem vindo a ser desenvolvida como complemento aos mecanismos tradicionais de sequestração de carbono. A sequestração natural através do solo (soil carbon sequestration) é um processo biológico e químico que ocorre naturalmente e que facilitará a migração de práticas agrícolas convencionais para a agricultura regenerativa e que, em complemento, permitirá adicionar créditos de carbono disponíveis para serem utilizados pela indústria”.

Por conseguir reter cerca de cinco mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano até 2050, o solo desempenha um papel central neste mercado. Enquanto depósito de carbono, é enquadrado atualmente no contexto da agricultura regenerativa, enfrentando barreiras à adoção em grande escala, tais como os longos períodos de transição da agricultura tradicional para as práticas regenerativas, a baixa capacidade de retenção de carbono desse tipo de solos e os elevados custos associados à mudança.

Além disso, os atuais métodos de verificação e certificação destas práticas carecem de transparência e detalhe, condições cada vez mais exigidas pelos investidores em projetos elegíveis para obter créditos de carbono.

Três práticas inovadoras de retenção de carbono no solo 

Atualmente, o carbono absorvido pelo solo é considerado vulnerável à reversão, levantando dúvidas sobre a durabilidade do seu armazenamento. Neste contexto, destacam-se as práticas inovadoras de retenção de carbono no solo que utilizam aditivos para potenciar os processos biológicos e químicos que ocorrem naturalmente, garantindo uma maior retenção de carbono no solo, bem como uma série de outros benefícios, tais como melhores rendimentos e maior resiliência das culturas, maior absorção de água e nutrientes e melhoria da biodiversidade.

A BCG destaca três categorias de práticas inovadoras de absorção de carbono no solo com grande potencial para ajudar na transição para a neutralidade carbónica:

  1. Otimização da meteorização de rochas. Esta técnica permite a retenção de carbono através da sua mineralização, assegurando uma maior permanência do mesmo no solo. De acordo com a investigação científica, pode assegurar mais de mil anos de armazenamento de carbono e, apesar de os resultados ainda não serem conclusivos, estudos apontam para uma capacidade de retenção de cerca de 3 a 4 toneladas de dióxido de carbono por hectare. Os principais desafios deste método são o estabelecimento de um modelo de avaliação e certificação fiável e robusto, e a escalabilidade, uma vez que o pH dos solos influencia a sua eficácia.
  2. Carvão biológico” (biocharcoal). Esta técnica assenta na utilização de subprodutos do carbono para melhorar as potencialidades do solo e tem uma elevada durabilidade de armazenamento de CO2, conseguindo retê-lo no solo durante séculos.  Como a dose recomendada deste produto é cerca de 2 a 3 toneladas por hectare, o seu potencial total de retenção de carbono é de aproximadamente 5 a 10 toneladas. O principal desafio que este método levanta é a garantia da sustentabilidade da matéria-prima utilizada, que normalmente é um subproduto de processos industriais pesados e intensivos em carbono. Ainda assim, o “carvão biológico” (biocharcoal) é a mais bem estabelecida das técnicas inovadoras de retenção de carbono no solo.
  3. Microrganismos. A aplicação de microrganismos, como bactérias, fungos e outros micróbios que são introduzidos no solo, melhora o processo de retenção do carbono. Embora a permanência varie consoante o modo de aplicação, muitos métodos assentes em microrganismos aumentam a quantidade de carbono reciclado no solo e podem facilitar a mineralização do mesmo, conduzindo ao carbono inorgânico do solo. Em termos de eficácia, através desta técnica, os solos são capazes de reter até 10 toneladas de CO2por hectare.

Estas práticas são mais benéficas a nível ambiental e económico quando comparadas com as tradicionais. Em primeiro lugar, por potenciarem os processos naturais dos solos, têm resultados mais rápidos e, consequentemente, aceleram a atribuição de créditos de carbono aos agricultores, sendo mais rentáveis. Seguidamente, melhoram a escalabilidade da retenção de carbono no solo graças à utilização de processos mais eficazes e à maior facilidade de transição, aumentando também a rentabilidade para os agricultores, diminuindo tempo e custos.

Por último, as práticas inovadoras têm potenciado o mercado voluntário do carbono, impulsionando a criação de novos registos de créditos de carbono por parte de empresas de crédito. Estas organizações têm apostado no conhecimento científico e na transparência dos dados para fomentar projetos de remoção de carbono inovadores e eficazes, e para apoiar a implementação e comercialização mais rápida dos mesmos.

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