Candidatura das Levadas da Madeira à UNESCO retirada para incluir canais privados
O Governo da Madeira decidiu acolher a recomendação da Comissão Nacional da UNESCO de retirada da candidatura das Levadas da Madeira a Património Mundial para ser reformulada e integrar também os canais de água privados, disse fonte do executivo
As levadas dos séculos XV e XVI estão desativadas, pelo que a candidatura à UNESCO seleciona um conjunto de canais construídos entre os séculos XVIII e XX, que atualmente são também utilizados como percursos turísticos, constituindo um dos principais cartazes da região.
Na ilha da Madeira, os canais para transportar água começaram a ser construídos no século XV, no início do povoamento, e a obra prosseguiu até ao século XX, originando uma rede com cerca de 3.100 quilómetros.
Segundo Rafaela Fernandes, o Governo Regional só podia candidatar as levadas que estão sob gestão pública, “e a entidade que avaliou a candidatura, apesar dos esclarecimentos prestados, considerou que as oito levadas públicas não eram suficientes para demonstrar o sistema de gestão de água” na região.
“A Comissão Nacional recomendou que nós repensássemos em melhorar a candidatura no sentido de incluir as levadas privadas”, complementou a governante madeirense, explicando que este projeto passa por envolver os privados no projeto.
Rafaela Fernandes esclareceu que, “pelo tempo curto que existe entre a obtenção desse relatório e a apresentação da candidatura, a Comissão Nacional da UNESCO recomendou que fosse retirada a candidatura para poder resolver essa questão”.
A governante realçou que tal “significa que ela [a candidatura] não será objeto de votação nesta reunião” na Índia, por a Comissão Nacional ter recomendado que seja ultrapassada a questão colocada pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS)
Rafaela Fernandes salientou que o Governo Regional “não pode privatizar as levadas” e que estes canais de água “são uma questão cultural”.
“Agora será reorganizada a candidatura que, relembro, é uma candidatura a Património Natural e Material, está relacionada com a componente humana da construção das próprias levadas. E tendo de haver uma envolvência das levadas que estão sob gestão privada o processo tem de ser repensado”, reforçou.
Rafaela Fernandes admitiu que o Governo Regional discorda de alguns aspetos da leitura feita pela ICOMOS, nomeadamente no que concerne ao problema das plantas invasoras.
“Naturalmente não concordamos com alguns aspetos que foram colocados, porque as plantas invasoras não passeiam nos canais de água. Aquilo que está ali em causa é património cultural e material, a componente humana”, sublinhou.
A responsável madeirense vincou que “ninguém está a discutir património natural” com a candidatura das levadas, acrescentando que, no que diz respeito à Floresta Laurissilva, “todos os planos de gestão são cumpridos pelo Governo Regional”.
“O ICOMOS avalia a candidatura também numa perspetiva de património natural (…). Não concordamos porque estamos a falar da componente humana, da construção das levadas. Não é chamada à discussão a componente natural e, obviamente, para isso existem os planos de gestão da Floresta Laurissilva onde naturalmente é feito um trabalho intenso por parte de todas as entidades para o combate a plantas invasoras”.
Rafaela Fernandes enfatizou que a candidatura “agora vai ser reanalisada para ser apresentada uma nova”.