Fósseis brasileiros revelam uma descoberta surpreendente na evolução dos mamíferos



A descoberta de novos fósseis de cinodontes do sul do Brasil por uma equipa de paleontólogos da Universidade de Bristol, juntamente com colegas da Argentina e do Brasil, conduziu a um avanço significativo na compreensão da evolução dos mamíferos.

Estes fósseis, pertencentes às espécies precursoras dos mamíferos Brasilodon quadrangularis e Riograndia guaibensis, oferecem uma visão crítica sobre o desenvolvimento da mandíbula e do ouvido médio dos mamíferos, revelando experiências evolutivas que ocorreram milhões de anos antes do que se pensava.

Os mamíferos destacam-se entre os vertebrados pela sua estrutura mandibular distinta e pela presença de três ossos do ouvido médio. Esta transição dos vertebrados anteriores, que tinham um único osso do ouvido médio, há muito que fascina os cientistas.

O novo estudo explora a forma como os antepassados dos mamíferos, conhecidos como cinodontes, desenvolveram estas caraterísticas ao longo do tempo.

Utilizando a tomografia computorizada, os investigadores conseguiram reconstruir digitalmente, pela primeira vez, a articulação do maxilar destes cinodontes.

Descobriram um contacto de “estilo mamífero” entre o crânio e a mandíbula inferior em Riograndia guaibensis, uma espécie de cinodonte que viveu 17 milhões de anos antes do exemplo anteriormente mais antigo conhecido desta estrutura, mas não o encontraram em Brasilodon quadrangularis, uma espécie mais próxima dos mamíferos.

Isto indica que a caraterística que define a mandíbula dos mamíferos evoluiu várias vezes em diferentes grupos de cinodontes, mais cedo do que o esperado.

Evolução muito mais complexa e variada do que se pensava

Estes resultados sugerem que os antepassados dos mamíferos experimentaram diferentes funções da mandíbula, levando à evolução de caraterísticas “mamíferas” de forma independente em várias linhagens. A evolução inicial dos mamíferos, ao que parece, foi muito mais complexa e variada do que se pensava anteriormente.

O autor principal, James Rawson, da Escola de Ciências da Terra de Bristol, explica que a “aquisição do contacto da mandíbula dos mamíferos foi um momento-chave na evolução dos mamíferos”.

“O que estes novos fósseis brasileiros mostraram é que diferentes grupos de cinodontes estavam a experimentar vários tipos de articulações da mandíbula, e que algumas caraterísticas outrora consideradas exclusivamente mamíferas evoluíram inúmeras vezes também noutras linhagens”, acrescenta.

Essa descoberta tem amplas implicações para a compreensão dos estágios iniciais da evolução dos mamíferos, ilustrando que caraterísticas como a articulação da mandíbula e os ossos do ouvido médio dos mamíferos evoluíram em uma colcha de retalhos, ou mosaico, em diferentes grupos de cinodontes.

A coautora do artigo, Pam Gill, Associada Científica do Museu de História Natural de Londres e da Universidade de Bristol, sublinha que “este estudo foi possível graças aos espécimes de três taxa cinodontes fundamentais, Brasilodon, Riograndia e Oligokyphus, que foram digitalizados para reconstruir a articulação da mandíbula. Os excitantes espécimes recentes de Brasilodon e Riograndia do Brasil forneceram novas informações, mas também foi importante digitalizar espécimes de Oligokyphus das colecções do Museu de História Natural.

“Embora o Oligokyphus tenha sido inicialmente descrito na década de 1950, estas digitalizações recentes e detalhadas confirmaram as interpretações anteriores da estrutura da articulação da mandíbula, tornando possível incluí-las com confiança na análise”, explica.

Agustín Martinelli, do Museo Argentino de Ciencias Naturales de Buenos Aires, acrescenta que “nos últimos anos, essas minúsculas espécies fósseis do Brasil trouxeram informações maravilhosas que enriquecem nosso conhecimento sobre a origem e a evolução das caraterísticas dos mamíferos. Estamos apenas no começo e nossas colaborações multinacionais trarão mais novidades em breve”.

A equipa de investigação está ansiosa por continuar a estudar o registo fóssil sul-americano, que provou ser uma fonte rica de novas informações sobre a evolução dos mamíferos.

A Professora Marina Soares do Museu Nacional, Brasil, afirmou que “em nenhum outro lugar do mundo existe uma variedade tão grande de formas cinodontes, intimamente relacionadas com os primeiros mamíferos”.

Ao integrar estas descobertas com os dados existentes, os investigadores esperam aprofundar a sua compreensão do modo como as primeiras articulações da mandíbula funcionavam e contribuíram para o desenvolvimento da forma mamífera.

James conclui: “o estudo abre novas portas à investigação paleontológica, uma vez que estes fósseis fornecem provas inestimáveis das experiências evolutivas complexas e variadas que acabaram por dar origem aos mamíferos modernos”.





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