Vulcão submarino a 400 metros de profundidade revela-se “oásis” de biodiversidade



Em meados de 2023, uma equipa internacional de cientistas revelava ao mundo a descoberta de um novo vulcão submarino no Mar de Barents, no oceano glacial ártico.

Com recurso a submersíveis não-tripulados, a equipa localizou o vulcão a 400 metros abaixo da superfície do mar, expelindo lama e fluído rico em metano. Tinha sete metros de diâmetro e dois metros e meio de altura, e foi batizado com o nome Borealis.

O vulcão submarino Borealis, descoberto em 2023 no Mar de Barents.
Foto: UiT/AKMA3

Quase dois anos depois da descoberta e de análise dos dados recolhidos, a mesma equipa, liderada por Giuliana Panieri, revela que o vulcão, além de permitir estudar o interior da Terra, é também um santuário de biodiversidade, muito graças às condições ambientais por ele criadas e também à proibição de pesca nessa região do Mar de Barents.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Communications’, os investigadores, entre eles a portuguesa Sofia Ramalho do Centro de Estudos Ambientais e Marinhos (CESAM) da Universidade de Aveiro, dizem que o Borealis serve de refúgio para muitas espécies marinhas que ocorrem no Mar de Barents, especialmente invertebrados como anémonas, poliquetas da família Serpulidae, uma variedade de espécies de esponjas e de corais.

No seu conjunto, esses organismos criam condições favoráveis à presença de peixes, que por entre estes invertebrados podem refugiar-se de predadores e alimentar-se em relativa segurança, incluindo espécies de relevância comercial como Pollachius virens, bacalhau e peixes-lobo, entre outros, e até algumas ameaçadas como o Sebastes norvegicus, que faz parte da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

“O Borealis é um oásis onde diferentes espécies podem prosperar e florescer”, indica Panieri, em comunicado. Para a investigadora, “preservar ecossistemas como o vulcão de lama Borealis é essencial para manter a biodiversidade e compreender as interações entre a geologia, a geoquímica e a biologia em ambientes marinhos”.

Redes de arrasto perdidas e que se afundaram, presas em estruturas carbonatadas perto do vulcão Borealis e colonizadas por várias espécies marinhas, como anémonas e hidrozoários. Os investigadores acreditam que, dada a grande presença de fauna, as redes terão sido perdidas há vários anos. Foto: Panieri et al., 2025

Panieri acredita que é fundamental perceber como essas três vertentes se influenciam umas às outras, “considerando que o leito marinho ártico desempenha um papel importante nas atividades de extração de petróleo e gás e na emergente indústria da mineração em mar profundo”.

Em maio do ano passado, os cientistas voltaram ao vulcão Borealis e verificaram que a água em torno dessa formação submarina era de 11,5 graus Celsius, contrastando com os cerca de quatro graus do restante leito marinho da região.

Além disso, análise a sedimentos da base do vulcão revelaram organismos marinhos microscópicos com cerca de 2,5 milhões de anos e que o Borealis emite metano provavelmente há milhares de anos, sem que ninguém tivesse dado por isso.

“A ausência de pesca de arrasto e as qualidades protetoras do habitat natural oferecem um refúgio onde estas espécies podem prosperar, apesar dos impactos significativos da pesca no leito marinho da área circundante do Mar de Barents”, escrevem os autores.





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