Estudo aponta que regresso do urso-pardo a Portugal seria visto de forma geralmente positiva



O urso-pardo (Ursus arctos) foi declarado extinto em Portugal em 1843. Ainda assim, a recuperação das populações desse predador do outro lado da fronteira pode, eventualmente, significar o regresso da espécie ao país, embora, sobre isso, não haja ainda qualquer certeza.

Num artigo publicado na revista ‘Conservation Science and Practice’, investigadores de Portugal e de Espanha não afastam essa possibilidade, destacando a proximidade entre a região Norte de Portugal e a população de ursos-pardos da Cantábria, “que tem crescido rapidamente nos últimos anos”. Dessa forma, “essa situação aumenta a probabilidade de ursos dispersantes alcançarem o Norte de Portugal, um habitat adequado para a recolonização dos ursos-pardos”, explicam.

Para ilustrar que esse não é um cenário assim tão remoto quanto possa parecer, recordam que, em 2019, foi avistado um urso-pardo macho em Espinhosela, freguesia de Bragança, originário dos núcleos ursinos espanhóis.

O trabalho procurou, acima de tudo, compreender as perceções da sociedade sobre um eventual regresso dos ursos a Portugal.

Através de questionários entregues a atores-chave na gestão do território, como gestores de zonas de caça, associações de pecuária e da floresta, bem como a representantes do setor turístico, da academia e de organizações não-governamentais, num total de 42 participantes, o estudo conclui que “perto de 83% dos respondentes considerou que o regresso do urso-pardo a Portugal é provável nos próximos 10-20 anos”.

Os especialistas escrevem ainda que “no geral, os respondentes não consideraram os ursos como animais perigosos” e que “sentir-se-iam relativamente seguros em áreas de urso e com potencial para encontros com ursos”.

Os atores-chave locais, que incluem apicultores, agricultores, criadores de animais e os setores florestal e do turismo, “apesar de ser um grupo pequeno”, com apenas oito indivíduos, consideram que “sentir-se-iam seguros em áreas de urso”. Os autores do artigo dizem que esses agentes se consideram estar “mais bem preparados para lidar com encontros com ursos do que outros grupos”.

Este grupo é o que eventualmente poderá estar mais exposto a interações com ursos, caso regressem a Portugal, mas os investigadores escrevem que “mostrou perceções e atitudes positivas face à conservação de ursos-pardos” e que “estão também comprometidos em adaptar-se e a suportar custos relacionados com o regresso dos ursos”.

Em comunicado, a Palombar, que participou na elaboração do trabalho, destaca que os respondentes “consideram, no geral, positivo um eventual regresso do urso-pardo (Ursus arctos) ao território português” e que “os resultados deste estudo fornecem uma base de avaliação das perceções e atitudes relativamente ao urso-pardo importantes para a elaboração de um plano de conservação que prepare o eventual regresso da espécie ao território nacional”.

Reconhecendo a amostra limitada de participantes, que todos voluntariamente marcaram presença num workshop sobre o urso-pardo em outubro de 2021 em Bragança, no qual responderam ao questionário, os autores do artigo acreditam que “este é um resultado promissor, uma vez que estas perceções e atitudes nem sempre se verificam em áreas às quais o urso está a regressar”.

“Apesar dos constrangimentos, o nosso estudo fornece perspetivas sobre como os grupos de atores-chave questionados percecionam e potencialmente se comportam relativamente aos ursos que regressam numa região onde a espécie atualmente não está presente”, lê-se no estudo.

“Este resultado é significativo, porque os grupos de atores-chave questionados são os que mais provavelmente interagirão com os ursos na eventualidade de regressarem a Portugal”, afirmam os autores, avançando que aumentar a área geográfica e a diversidade de setores abrangidos pelo estudo “é uma prioridade de investigação para o futuro próximo”.





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