Portugal pode duplicar valor gerado pela fileira da resina
Portugal pode duplicar nos próximos anos os atuais 250 milhões de euros (ME) anuais gerados pela fileira da resina, disse ontem o presidente da Resipinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina.
“A indústria tem essa capacidade de em dois ou três anos conseguir chegar a esse objetivo, mas precisa de ter matéria-prima e de existirem pinhais resinados”, sustentou Marco Ribeiro, que falava à agência Lusa após o encontro “Resinae Ignite”, que decorreu esta tarde em Pampilhosa da Serra, no interior do distrito de Coimbra, no âmbito do projeto integrado RN21.
Na iniciativa – que reuniu empresários, produtores, investigadores e representantes institucionais – o dirigente associativo salientou que Portugal resina entre 20 e 25 mil hectares de pinhal, quando, pelas estatísticas, o país tem entre “600 a 700 mil hectares, o que dá uma grande margem”.
Segundo o presidente da Resipinus, no âmbito do projeto RN21, que termina em dezembro, mas que pode ser dilatado mais uns meses, estão a ser estudados novos métodos de extração, menos dispendiosos, já que atualmente os custos de extração da resina são elevados.
O projeto RN21 reúne, pela primeira vez, o setor da resina em Portugal, num consórcio que pretende apostar na investigação e inovação para modernizar e revitalizar um dos setores mais tradicionais da economia nacional, de forma a valorizar a resina natural enquanto produto “bio”.
“Estamos a aproveitar para desenvolver alguma modernização, trazer novos modelos de extração, mais eficientes, com algumas partes até mecanizadas, que até agora não era possível, de forma que se consiga ser mais eficiente no processo de extração”, explicou Marco Ribeiro.
O objetivo é reduzir as deslocações dos resineiros aos pinhais e ter uma produção equivalente, para reduzir a mão de obra necessária, aumentar a qualidade do produto final, através de um recipiente que permita manter as características da resina, e formar novos resineiros com novos métodos.
“O mercado é exigente, quer produtos com qualidade, e nós atualmente com o método tradicional não conseguimos esse produto e, por isso, esses novos métodos, que são mais atrativos, podemos trazer aspetos positivos para o futuro”, sustentou.
Para o dirigente associativo, se não houver uma valorização económica deste tipo de trabalho será difícil captar “quem quer que seja para o setor e, por isso, temos de dar este passo de modernização”.
Ainda no âmbito do projeto RN21, o Centro PINUS – Associação para a Valorização da Floresta de Pinho, que reúne os principais agentes da fileira do pinho, anunciou hoje que, juntamente com vários parceiros, está a iniciar um projeto de melhoramento genético do pinheiro-bravo para produzir mais resina.
“Pretende-se selecionar as árvores que possam existir no país e que sejam mais produtivas em resina. De uma média atual de dois quilos por pinheiro temos alguns que produzem quatro quilos e através de um ensaio de campo pretendemos testar se essa produtividade é genética”, frisou Pedro Teixeira.
Se os testes confirmarem que a maior produção está associada a uma questão genética, serão retiradas sementes e material genético para replicar em novas plantas “que, à partida, vão ser mais produtivas”, o que pode acontecer dentro de uma década, sendo “uma vantagem para toda a cadeia de valor”, explicou o técnico.
No encontro “Resinae Ignite”, foi apresentada oficialmente a marca “Resinae”, um símbolo de qualidade, que pretende reforçar a posição do setor e impulsionar a resina natural para um patamar de competitividade que responde às exigências de um mercado cada vez mais focado na sustentabilidade.
“A marca acaba por ser o culminar de um esforço conjunto para ter um reconhecimento público e uma valorização extra da resina natural, que é usada numa série de produtos que usamos no dia a dia”, sublinhou Rogério Rodrigues, coordenador do projeto RN21, que tem um investimento superior a 26 ME e uma subvenção de 17,5 ME, suportada pelo Plano de Recuperação e Resiliência.
O projeto é liderado pelo CoLAB ForestWISE (Laboratório Colaborativo para a Gestão Integrada da Floresta e do Fogo) e envolve 37 entidades, que vão conjugar investimentos públicos e privados, assente em três pilares: fomento da produção da resina natural nacional, reforço da sustentabilidade da indústria transformadora e diferenciação positiva da resina natural e produtos derivados.