O que a linguagem dos bebés nos pode dizer sobre o canto das baleias



A linguagem há muito que é considerada uma caraterística exclusivamente humana, com caraterísticas que a distinguem da comunicação de todas as outras espécies.

No entanto, uma investigação publicada na revista Science revelou a mesma estrutura estatística no canto da baleia-de-bossa que é uma caraterística distintiva da linguagem humana.

Jenny Allen é uma das principais especialistas na estrutura do canto das baleias do Programa de Poluentes Orgânicos Persistentes do Oceano Austral (SOPOPP) da Universidade de Griffith, no Centro de Saúde Planetária e Segurança Alimentar.

Trabalhou com uma equipa internacional, liderada pelo Professor Inbal Arnon da Universidade Hebraica, Ellen Garland da Universidade de St Andrews e pelo Professor Simon Kirby da Universidade de Edimburgo, em colaboração com Claire Garrigue (IRD Nova Caledónia) e Emma Carroll (Universidade de Auckland).

Este trabalho representou uma colaboração única entre linguistas, cientistas do desenvolvimento, biólogos marinhos e ecologistas comportamentais.

A equipa aplicou métodos inovadores inspirados na forma como os bebés descobrem as palavras no discurso a oito anos de gravações de baleia-de-bossa recolhidas na Nova Caledónia, descobrindo as mesmas estruturas estatísticas encontradas em todas as línguas humanas.

Os resultados também revelaram estruturas anteriormente não detetadas no canto das baleias, ilustrando uma profunda semelhança entre duas espécies não relacionadas, unidas pelo facto de os seus sistemas de comunicação serem transmitidos culturalmente.

“O canto das baleias-de-bossa é transmitido culturalmente a uma escala geográfica nunca vista fora dos seres humanos, mas elas são evolutivamente muito distintas de nós”, explica Allen, sublinhando que “é por isso que constitui uma comparação tão interessante”.

“Estes resultados dão-nos uma visão única sobre a importância da transmissão cultural nos processos de aprendizagem entre espécies, particularmente na aprendizagem de sistemas complexos de comunicação”, acrescenta.

Em vez de tentar encaixar a comunicação animal num buraco em forma de “linguagem humana”, penso que a questão mais interessante é “porque é que sistemas de comunicação tão diferentes evoluíram de forma tão semelhante?”

A linguagem humana, que também é transmitida culturalmente, tem partes recorrentes cuja frequência de utilização segue um determinado padrão.

Nos seres humanos, estas propriedades facilitam a aprendizagem e podem surgir porque ajudam a linguagem a ser transmitida de uma geração para a seguinte.

Inbal Arnon, da Universidade Hebraica, afirmou que “a utilização de conhecimentos e métodos sobre a forma como os bebés aprendem a linguagem permitiu-nos descobrir uma estrutura anteriormente não detetada no canto das baleias”.

“Este trabalho mostra como a aprendizagem e a transmissão cultural podem moldar a estrutura dos sistemas de comunicação: podemos encontrar uma estrutura estatística semelhante sempre que um comportamento sequencial complexo é transmitido culturalmente”, explica.

“Levanta a possibilidade intrigante de as baleias-corcundas, tal como os bebés humanos, poderem aprender a sua canção através do rastreio das probabilidades de transição entre elementos sonoros e da utilização de quedas nessas probabilidades como uma pista para segmentar a canção”, adianta.

O estudo “Whale song shows language-like statistical structure” foi publicado na revista Science.





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