Quando as aves deixam de voar, os seus corpos mudam muito mais rapidamente do que as suas penas



Atualmente, mais de 99% de todas as espécies de aves são capazes de voar. Embora essa capacidade seja um dos traços mais distintivos desse grupo de vertebrados, algumas espécies, ao longo da sua história evolutiva, perderam-na.

Pinguins, avestruzes, emas, causares e kiwis deixaram de conseguir voar há milhares de anos. As suas penas perderam as qualidades aerodinâmicas dos seus parentes voadores e os seus corpos adaptaram-se à vida em terra, como as aves corredoras, ou no mar, como os pinguins.

Uma nova investigação, publicada na revista ‘Evolution’, revela agora que os corpos das aves não-voadoras, e não as suas penas, foram os primeiros a sofrer alterações, sugerindo que a modificação das penas é um processo evolutivo mais lento.

Todas as espécies de aves que hoje não voam originaram de antepassados voadores, e Evan Saitta, investigador do Field Museum, em Chicago (Estados Unidos da América) e primeiro autor do estudo, considera que, em termos de processos de evolução, é muito mais fácil uma ave perder a capacidade de voo do que adquiri-la ou recuperá-la.

A perda da capacidade de voo pode acontecer por várias razões. As aves, ainda voadoras, que aterraram e instalaram-se em regiões, como ilhas, sem predadores não precisam de se refugir nas árvores para se protegerem de predadores ou para defender os seus ninhos e ovos. Por isso, adaptam-se a uma vida com os pés bem assentes na terra.

Com o passar do tempo, acabam por perder a capacidade de voar, que nesse novo contexto ecológico de nada serve, e os seus corpos e as suas penas transformam-se. O mesmo acontece com os pinguins, que aprenderam a “voar” debaixo de água.

Analisando a pele preservada de 30 espécies de aves não voadoras e dos seus parentes mais próximos que ainda voam, os autores perceberam que a transformação das penas, isto é, a perda das qualidades aerodinâmicas, acontece muito depois de as aves terem deixado de voar. A razão pode estar relacionada com a complexidade das próprias penas.

“As penas são estruturas complexas que têm uma sequência de desenvolvimento muito bem definida que é difícil de alterar. E quando as aves perdem a capacidade de voo, essas características das penas desaparecem na ordem inversa à que inicialmente lhes deus origem”, explica Saiita, em comunicado.

Dado que as penas aerodinâmicas que permitem o voo foram das últimas transformações a acontecerem na evolução das aves, tendo já começado nos dinossauros, a sua perda será, por isso, das últimas coisas a acontecer quando deixam de voar. Como tal, argumentam os investigadores, é preciso muito tempo para que as estruturas que geram as penas se alterem para dar origem, por exemplo, às plumas que hoje cobrem as avestruzes modernas.

“A primeira coisa que muda quando as aves deixam de voar, possivelmente mesmo antes de as penas se tornarem simétricas, é a proporção das suas asas e das suas caudas”, aponta o paleontólogo, pelo que, antes de se mudarem as penas, “vemos alterações no esqueleto e também uma mudança da massa corporal no geral”.

Como modificar o corpo exige mais custos energéticos do que alterar as estrutura das penas, a evolução parece priorizar as mudanças no esqueleto e na musculatura e deixar a maior parte das penas para o fim.





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