Árvores de folha caduca mantêm raízes ativas mesmo durante o inverno

Nas regiões temperadas do planeta, como Portugal, as árvores de folha caduca anunciam a mudança das estações e marcam a passagem do tempo. Chegando o outono, as folhas verdes adquirem tonalidades como o amarelo, o laranja e o vermelho, e no inverno perdem a folhagem, deixando aos ramos despidos, até à primavera seguinte.
Sabe-se que durante os meses mais frios do ano, as árvores de folha caduca, ou caducifólias, entram numa espécie de dormência, suspendendo o seu crescimento acima do solo para pouparem energia. Pensava-se que o mesmo aconteceria no subsolo, com a “hibernação” das raízes, mas uma nova investigação vem mostrar algo diferente.
Um grupo de investigadores europeus, num artigo publicado na revista ‘Nature Ecology & Evolution’, revela que, afinal, as raízes das árvores caducifólias continuam a crescer durante todo o ano, sugerindo que os solos das florestas podem ter uma maior capacidade de sequestro de carbono do que se pensava, capturando-o e fixando-o mesmo quando as árvores estão menos ativas e não têm folhas.
“Os nossos resultados demonstram que as partes de uma árvore acima do solo e abaixo do solo seguem calendários diferentes, permitindo que o crescimento subterrâneo seja priorizado no inverno e o crescimento aéreo no início da primavera”, explica, em comunicado, Paolo Zuccarini, investigador do centro de investigação catalão CREAF e um dos autores do artigo.
A conclusão deriva do estudo de quatro espécies de árvores de folha caduca presentes nas florestas temperadas de Espanha, Bélgica e Noruega: a faia-europeia (Fagus sylvatica), a bétula-pendula (Betula pendula), o carvalho-alvarinho (Quercus robur) e o choupo-tremedor (Populus tremula).
Os cientistas dizem que o crescimento das raízes durante o inverno permite à árvore armazenar nutrientes que usará, chegada a primavera, para retomar a sua atividade e o seu crescimento acima do solo e para produzir folhas.
Josep Peñuelas, outro investigador do CREAF e coautor deste trabalho, aponta que o “relógio biológico” das raízes parece não ser tão afetado por fatores externos, como a temperatura e a luminosidade, como é a parte superior da árvore.
Como tal, é possível que as árvores de folha caduca possam estar mais bem preparadas para lidar com um clima em transformação, com primaveras mais quentes e precipitação irregular, uma vez que, mesmo durante o inverno, continuam a absorver nutrientes e a crescer debaixo da terra.