Estudo da UBI: População portuguesa apoia políticas públicas que promovem a proteína vegetal

Promoção da proteína vegetal, diversificação proteica e um sistema alimentar mais sustentável e saudável têm o apoio popular português, segundo novo estudo de investigadores da Universidade da Beira Interior, mas os desafios na implementação exigem estratégias inovadoras. Capacitação, educação e incentivos fiscais lideram as prioridades.
Uma maior aposta na proteína vegetal, em particular de leguminosas, tem o apoio da população portuguesa, o que suporta políticas de incentivo à respetiva produção, desenvolvimento e consumo. Numa altura de eleições legislativas, esta é a principal conclusão de um estudo conduzido por dois investigadores do Núcleo de Estudos em Ciências Empresariais (NECE) do Departamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior (DGE-UBI), tendo como base o projeto Proteína Verde, uma iniciativa da ProVeg Portugal, em parceria com mais de 15 organizações nacionais e europeias.
Entre agosto e dezembro de 2023, Daniel Pais e Tiago Afonso, investigadores da UBI, recolheram 874 respostas válidas através de um questionário nacional, com o objetivo de medir o grau de apoio a 15 recomendações políticas propostas pelo projeto Proteína Verde.
Os principais resultados demonstram, de uma forma geral, um forte apoio da população a medidas que promovam um sistema alimentar mais focado em proteína de origem vegetal em detrimento da de origem animal, ou seja, uma maior “diversificação do sistema alimentar atual”, conforme referido no relatório.
A maioria das medidas propostas recebeu elevados níveis de concordância e importância. Isto reflete o apoio da sociedade portuguesa a iniciativas alimentares que promovam a sustentabilidade ambiental. “A aceitação das políticas sugere que a população está consciente da necessidade de privilegiar fontes proteicas que têm origem vegetal”, afirma Daniel Pais, que é também docente do Departamento de Gestão e Economia da UBI.
De acordo com o estudo, medidas informativas e educacionais são mais apoiadas e fáceis de implementar. A capacitação de estudantes para práticas agrícolas sustentáveis (67,27%) e a formação de profissionais de cozinha para mais e melhores refeições de base vegetal em cantinas públicas (67,01%) surgem como duas das recomendações mais valorizadas, tanto pela sua importância como pela perceção de facilidade de execução.

Também os incentivos fiscais surgem em destaque, com o alívio fiscal para leguminosas, frutas e hortícolas (70,13%) a liderar em termos de importância, refletindo a vontade dos cidadãos em tornar os alimentos vegetais mais acessíveis. Esta medida é vista como uma ferramenta eficaz para impulsionar o consumo sustentável e equilibrar as escolhas alimentares no ponto de venda.
Por outro lado, políticas que podem implicar impactos negativos na indústria agropecuária, como impostos sobre alimentos de origem animal, mecanismos prioritários de aquisição de terras para produção de leguminosas ou a conversão gradual da pecuária para cultivo vegetal, revelam menor apoio.
Segundo a análise, esta hesitação poderá estar relacionada com a perceção de complexidade, falta de informação ou receios socioeconómicos. Medidas que requerem conhecimento técnico especializado ou mudanças estruturais profundas são consideradas mais difíceis de implementar, sugerindo a necessidade de mais investimento em educação, consciencialização, capacitação e infraestrutura.
A criação de uma “Estratégia Nacional para a Proteína Verde” (61,30%) surge como uma proposta bem acolhida pela população. Os dados são, assim, favoráveis à criação de uma estratégia nacional de promoção da proteína vegetal, agregadora das anteriores e que promova a autossuficiência alimentar.
Neste contexto, destaca-se a aprovação, no final de 2024, da revisão do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), que inclui medidas concretas para a promoção da proteína vegetal, nomeadamente leguminosas, como abordagem integradora para assegurar a autossuficiência de proteaginosas e a soberania alimentar.
Entre estas estão: a criação de uma estratégia nacional para incentivar o consumo de proteína vegetal, a capacitação formativa e reforço de oferta de refeições de base vegetal nas cantinas públicas, e a realização de campanhas de divulgação acerca dos benefícios do consumo das proteínas vegetais. Complementarmente, o plano prevê a promoção de cadeias curtas agroalimentares.
Dietas de base vegetal: Benefícios climáticos, ambientais e para a saúde pública
Segundo se lê no relatório, uma alimentação que privilegia fontes de proteína de origem vegetal pode reduzir as emissões individuais relacionadas com a alimentação em até 50% e, globalmente, diminuir as emissões alimentares em até 70% até 2050. Pode ainda reduzir em metade a pegada hídrica e, se adotadas em larga escala, reduzir em 75% o uso global de terras agrícolas.
Para além dos benefícios ambientais, o aumento do consumo de alimentos de origem vegetal está associado a melhorias na saúde humana, incluindo menor risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro e mortalidade geral.

Estas conclusões vão ao encontro dos objetivos da União Europeia de promover escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis. Um recente relatório dirigido à Comissão Europeia sublinha a necessidade de políticas públicas que favoreçam dietas equilibradas, acessíveis, menos intensivas em recursos e atrativas. O relatório recomenda que a Comissão desenvolva, até 2026, um Plano de Ação para Alimentos de Base Vegetal, com vista a fortalecer as cadeias agroalimentares deste tipo de produtos e apoiar os consumidores na transição para padrões alimentares mais sustentáveis.
Recomendações dos investigadores
“Com base nos resultados, recomenda-se priorizar as medidas que apresentam uma maior concordância e importância, mas que também sejam percecionadas como relativamente fáceis de implementar. Desta forma, poder-se-á garantir um impacto positivo mais rápido e eficaz”, defende Tiago Afonso, também professor na UBI. “A formação aos profissionais de cozinha e o reforço da oferta de refeições de base vegetal nas cantinas públicas, bem como a capacitação de estudantes e a educação ambiental nas escolas, são as medidas que mais se destacam pelo seu potencial de concordância e aceitação.”
“No fundo, os dados são claros, o que falta é agir. A promoção da proteína vegetal deve ser encarada como uma prioridade estratégica para Portugal, não apenas pela sustentabilidade ambiental, mas também pelos impactos positivos na saúde pública e na resiliência económica do país.”, acrescenta Daniel Pais.
“Portugal tem grande potencial para valorizar a proteína vegetal, em particular as leguminosas, aumentando a produção local, criando valor, gerando empregos e reduzindo a dependência de importações, com investimento em inovação na cadeia agroalimentar.”