“Balisaun”, tempero de Timor-Leste de camarão apanhado em noite de lua cheia

O ‘balisaun’, pequeno camarão, é para muitos habitantes do município timorense de Manatuto uma iguaria, mas também uma fonte de rendimento, que só pode ser apanhado depois de uma visita à casa sagrada e sacrifício de um bode.
É com aquele pequeno camarão que os timorenses fazem um tempero, conhecido também como “balisaun”, uma iguaria com um forte sabor a mar.
“A qualquer momento o ‘balisaun’ pode surgir, até de dia, mas normalmente é mais fácil encontrá-lo à noite, quando a lua está cheia ou quase cheia”, disse à Lusa o pescador Francisco da Costa, em Manatuto, cidade a cerca de 60 quilómetros a leste de Díli, capital de Timor-Leste.
Francisco da Costa explicou que, quando a terra está escura, esta espécie sobe à superfície, permitindo que os pescadores a apanhem. Durante o dia ou quando o mar está mais revolto, os pequenos camarões já não sobem, por isso é difícil apanhá-los.
Antes de os apanhar no mar, a maioria dos pescadores de Manatuto pede proteção a uma “uma lulik” (casa sagrada) e realiza o sacrifício de um bode à beira-mar, num local sagrado. Só cinco noites depois desse ritual é que vão para o mar pescar o ‘balisaun’.
“Matamos o bode porque, segundo a tradição, é assim que se deve proceder antes de apanhar estes camarões. Se não o fizermos, os que forem ao mar podem sofrer desgraças — afogar-se ou serem atacados por crocodilos”, contou Francisco da Costa.
O pescador explicou que os pequenos camarões são apanhados em determinada época do ano, principalmente entre janeiro e maio.
Joana Ramos da Costa, uma das muitas mulheres que vende ‘balisaun’ já preparado junto à estrada antes de chegar a Manatuto, explicou que o processo de preparação começa com a adição de sal aos pequenos camarões.
“Temos de temperá-lo duas vezes, primeiro com sal e deixar ao ar durante dois ou três dias e só depois se volta a temperar e está pronto a fermentar”, explicou Joana da Costa, que aprendeu a fazer a iguaria com os pais, que, por sua vez, aprenderam com os seus avós.
Depois de seco, aquele pequeno camarão é moído e junta-se malagueta, gengibre, alho e folhas de limoeiro e outras ervas aromáticas, criando-se um creme cor-de-rosa, muito apreciado para acompanhar outros alimentos.
Sobre o preço de venda, Joana indicou que os frascos custam entre cinco e 10 dólares, um valor elevado para a realidade económica timorense, onde o ordenado mínimo é de 115 dólares (cerca de 100 euros).
“Vendemos caro porque apanhar ‘balisaun’ no mar não é como na água doce. O mar é agitado, bate com força, e para os apanhar também temos de ter sorte. Se tivermos sorte, corre bem, senão podemos até morrer, porque às vezes encontramos crocodilos”, disse.
Joana da Costa explicou ainda que há compradores de todo o país. Quem conhece e aprecia, chega a comprar os frascos grandes por 10 dólares.
Marciana da Costa, outra vendedora de ‘balisaun’, explicou que o produto, tradicionalmente feito em Manatuto, também é vendido em Díli e que pode ser conservado durante bastante tempo.
“Basta colocá-lo num frasco, sem frigorífico. O segredo é fechá-lo bem e evitar que entre ar. Se entrar ar, estraga-se”, explicou.