Desastres naturais forçam mais de 260 milhões de pessoas a abandonar as suas casas nos últimos 10 anos

Entre 2015 e 2024, cerca de 265 milhões de pessoas em todo o mundo foram forçadas a abandonar as suas casas e comunidades e a deslocar-se para outras regiões do seu país devido a desastres naturais, intensificados pela ação humana, como cheias, tempestades, secas e incêndios.
De acordo com um relatório da organização IDMC, que monitoriza os movimentos forçados de pessoas dentro de um país, na última década, fortes tempestades e cheias foram responsáveis por 89% das deslocações internas, com as restantes a serem causadas por terramotos, secas e incêndios de grande escala.
Estima-se que só no ano passado os desastres naturais, mais intensos e frequentes por causa das alterações climáticas agravadas pela ação humana, tenham obrigado 45,8 milhões de pessoas a deixarem as suas casas, um número que a IDMC diz ser o valor anual mais alto de que há registo e o dobro da média anual dos últimos 10 anos.
No final de 2024, 9,8 milhões de pessoas ainda estavam deslocadas nos seus próprios países.
Para Alexandra Bilak, diretora da IDMC, as deslocações forçadas por desastres naturais não são “um problema de futuro”, mas estão a acontecer agora mesmo, estão a tornar-se mais frequentes e podem acontecer “em qualquer lugar”, ainda que as comunidades e países mais pobres sejam os mais afetados.
No entanto, salienta que as deslocações forçadas não são inevitáveis. “Com melhores dados, políticas direcionadas e investimentos de longo-prazo, os governos podem reduzir o risco e evitar os priores impactos”, destaca a responsável.
Embora reconheçam que as alterações climáticas estão realmente a amplificar fenómenos climáticos extremos, os autores deste relatório avisam que “estes perigos, por si só, não obrigam as pessoas a fugir”. A falta de preparação, infraestruturas desadequadas e a exposição aos riscos, fatores especialmente relevantes em países mais pobres, aumentam a probabilidade de os desastres levarem a deslocações forçadas, dizem.
Mais de 60% das deslocações forçadas relacionadas com desastres naturais em 2024 aconteceram em países ou territórios com rendimentos baixos ou médio-baixos.
E tudo indica que o risco de deslocações forçadas continuará a aumentar, à medida que a crise climática se agrava, furto da continuação das emissões de gases com efeito de estufa de origem humana. No pior cenário de aquecimento global, 100 milhões de pessoas em todo o mundo podem ser forçadas as deixar as suas casas devido a desastres naturais. Mesmo num cenário mais otimista, com reduções significativas de emissões, esse número chegará ainda aos 55 milhões de pessoas por ano.
“À medida que as temperaturas globais sobem, cada vez mais pessoas estão em risco” e “a nossa janela de oportunidade para agir está a fechar-se”, alerta Bilak. A responsável da IDMC considera que “é altura de transformar o que aprendemos com os dados em soluções políticas e compromissos financeiros”.