Arroz mais antigo do Pacífico encontrado numa gruta



A descoberta de vestígios antigos de arroz numa gruta em Guam alterou o que sabemos sobre a vida dos primeiros habitantes da região, de acordo com especialistas da Universidade Nacional Australiana (ANU).

Os restos de casca de arroz, que foram encontrados em cerâmica, são a mais antiga evidência de arroz no Pacífico mais remoto, datando de há 3.500 anos.

Hsiao-chun Hung, investigador da Escola de Cultura, História e Linguagem da ANU, afirma que as descobertas oferecem novas pistas sobre a migração e a cultura antigas.

“Até agora, as provas arqueológicas revelaram apenas raros vestígios de arroz no Pacífico mais remoto, datando talvez de há 1.000 a 700 anos, pelo que as provas que encontrámos fazem recuar significativamente essa cronologia”, refere.

Os restos de arroz foram escavados na gruta de Ritidian Beach, no norte de Guam, um local que ainda hoje tem significado cultural.

“Embora o arroz fosse um alimento diário em muitas sociedades asiáticas antigas, esta descoberta indica que no Pacífico mais remoto era tratado como um bem precioso, reservado para uso ritual em vez de ser consumido diariamente”, afirma Hung.

“Não encontrámos quaisquer indícios de antigos campos de arroz, sistemas de irrigação ou ferramentas de colheita em Guam. As nossas descobertas apoiam a ideia de que os primeiros habitantes das ilhas do Pacífico transportaram arroz das Filipinas através de 2300 quilómetros de mar aberto – a mais longa viagem oceânica conhecida na altura”, acrescenta.

“Isto demonstra não só as suas capacidades avançadas de navegação, mas também a sua visão para preservar e transportar recursos preciosos através de vastas distâncias. Realça a importância que o arroz deve ter tido”, aponta.

A gruta de Ritidian Beach proporciona uma visão única da vida dos primeiros habitantes da zona, uma vez que a maioria dos outros sítios de grutas em Guam foram perturbados durante e após a Segunda Guerra Mundial.

“Apesar de muitos anos de trabalho em sítios ao ar livre, não encontrámos, até agora, qualquer prova da utilização primitiva do arroz”, afirma Hung.

“Esta descoberta aponta para uma ligação profunda e duradoura às tradições ancestrais e a uma pátria asiática”, adianta.

As cascas de arroz foram encontradas na camada cultural mais antiga do sítio e foram datadas utilizando uma série de técnicas avançadas, incluindo a datação por radiocarbono dos montes de lixo humano circundantes.

“Provavelmente, as pessoas cozinhavam o arroz noutro local, longe da gruta, uma vez que o processamento e a cozedura dos cereais teriam, sem dúvida, deixado outros vestígios”, afirma Hung.

“O ambiente húmido das cavernas teria sido inadequado para armazenar arroz não processado em panelas. Os restos de arroz antigo foram encontrados apenas nas superfícies da cerâmica, o que exclui o armazenamento normal de alimentos”, conclui.






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