Estudo revela como o magmatismo em Portugal influenciou a formação da Madeira e das Canárias

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCT) e do Instituto Dom Luiz da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa demonstrou que o magmatismo ocorrido em Portugal no final do Cretácico teve origem numa pluma do manto, sendo esta responsável pela posterior formação das ilhas vulcânicas da Madeira e das Canárias.
O estudo, publicado na revista ‘Geology’, foi coordenado pelo investigador Ricardo Pereira (NOVA FCT), em colaboração com João Duarte e João Mata (Instituto Dom Luiz), e teve origem na tese de Mestrado de Bruno Araújo.
As plumas do manto são estruturas estacionárias, enquanto as placas tectónicas se deslocam sobre elas. O estudo sugere que esta pluma, localizada na fronteira entre o manto inferior e superior, a cerca de 660 quilómetros de profundidade, tem libertado pequenas plumas secundárias de forma episódica ao longo dos últimos 100 milhões de anos. Estas erupções vulcânicas deram origem a rochas encontradas em Portugal continental e na plataforma submersa, bem como em Marrocos, Madeira e Canárias.
Foi esse fenómeno que ocorreu no final do Cretácico, há cerca de 70-100 milhões de anos. Atualmente, as evidências dessa atividade podem ser observadas em formações rochosas na região de Lisboa, Sintra e Mafra, bem como mais a sul, em Sines e Monchique. Contudo, devido à movimentação das placas tectónicas, este magmatismo encontra-se inativo em Portugal Continental.
Os resultados desta investigação desafiam a visão tradicional de que o magmatismo do tipo hotspot (como o do Havai) requer a presença de uma pluma única ascendente no manto. Em alternativa, este estudo sugere que superplumas estacionadas entre o manto inferior e superior podem libertar pequenas plumas secundárias de forma descontínua ao longo de milhões de anos, criando padrões complexos de magmatismo e vulcanismo à superfície. Este modelo permite explicar a distribuição do magmatismo nas margens de Portugal e Marrocos, bem como a formação de cadeias montanhosas submarinas que se estendem para norte a partir das Canárias e da Madeira.
Em comunicado, a equipa aponta que, além de contribuir para uma melhor compreensão dos processos que alimentam grandes províncias magmáticas, esta investigação pode ter implicações noutras regiões do mundo, como na formação do arquipélago de Cabo Verde.
Os resultados deste estudo inserem-se num conjunto mais amplo de investigações que incluem, por exemplo, o uso de vulcões extintos para o armazenamento de dióxido de carbono, uma estratégia com potencial para mitigar as emissões de gases com efeito de estufa.