Investigadora de Centro da Universidade do Algarve premiada por estudo de peixe em São Tomé

A investigadora Vânia Baptista, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, foi distinguida com o prémio Mário Ruivo 2025 para profissionais em início de carreira com trabalhos na área dos oceanos, anunciou a instituição académica.
O prémio é atribuído pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO-IOC, sigla em inglês), em parceria com a Fundação EurOcean e o Governo Português, e Vânia Baptista foi distinguida por um projeto que estudou uma pequena espécie marinha denominada peixinho (Sicydium bustamantei), precisou o CCMAR num comunicado.
O projeto fez o estudo da espécie, que é “endémica e pouco conhecida” em São Tomé e Príncipe, mas “essencial para a subsistência de comunidades ribeirinhas e costeiras”, esclareceu o centro de investigação algarvio.
“Para além de gerar conhecimento científico sobre o ciclo de vida, ecologia, estado de conservação e o valor socioeconómico da espécie, o projeto envolveu diretamente pescadores, estudantes e instituições locais, promovendo um modelo de ciência participativa adaptado aos desafios locais da conservação marinha”, acrescentou.
O prémio está inserido na “Mário Ruivo Memorial Lecture Series”, que distingue profissionais em início de carreira com trabalhos realizados na área dos oceanos e “alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”.
Vânia Baptista foi distinguida “entre outras propostas de várias partes do mundo” e o prémio “reforça o contributo da nova geração de investigadores portugueses na ciência internacional dos oceanos”, essenciais para a preservação do ambiente.
“Este prémio não é só para mim, mas para toda a equipa do ‘LittleFish-STP’. Este projeto fez-me crescer como cientista, como líder e como pessoa”, afirmou Vânia Baptista ao receber o prémio, atribuído na segunda-feira em Paris, na sede da UNESCO.
A investigadora considerou também, citada no comunicado do CCMAR, que o projeto mostrou ser “possível ligar as pessoas ao oceano de formas inclusivas e sustentáveis” e promover “o valor das pescas de pequena escala, a literacia do oceano e a conservação da biodiversidade, com foco numa espécie de pequenas dimensões e negligenciada, como o peixinho”.
Na génese do estudo esteve uma visita realizada em 2017 a um mercado local de São Tomé e Príncipe, onde a equipa de investigadores liderada por Vânia Baptista testemunhou a venda de dezenas de peixes de pequenas dimensões, “como adultos”, mas que afinal eram exemplares “juvenis de uma espécie endémica e até então desconhecida”.
O projeto LittleFish-STP teve início em 2022 e pôs em prática uma “abordagem participativa e em colaboração com parceiros locais”, que permitiu fazer o estudo da espécie e incluir a comunidade local e muitas das suas ações.
“Além de reforçar a colaboração científica entre Portugal e São Tomé e Príncipe, através da partilha de conhecimentos, o projeto envolveu também a comunidade em ações de monitorização de peixes e atividades escolares, bem como em cursos e ‘workshops’. Esta integração de diferentes gerações reforçou um sentimento coletivo de pertença e responsabilidade em relação ao mar”, destacou.
O trabalho realizado é também um exemplo de como é possível melhorar a conexão com o oceano, contar com o contributo de quem depende do mar para a sua subsistência e respeitar “a sua complexidade ecológica”, com “soluções baseadas em dados científicos e que sejam socialmente justas”, disse ainda a investigadora.