Correr demasiado depressa pode ser fatal para os dragões-barbudos

Uma nova investigação que monitorizou o comportamento dos dragões-barbudos da Austrália através de minúsculos rastreadores de fitness revelou uma reviravolta surpreendente – os lagartos mais rápidos tinham mais probabilidades de morrer do que os mais lentos.
Publicada no Journal of Animal Ecology, a investigação – liderada por Kristoffer Wild da Universidade de Melbourne – estudou os dragões-barbudos (Pogona vitticeps) no seu ambiente natural ao longo de um ano, enquanto usavam pequenos dispositivos de alta tecnologia nas costas.
Os “dispositivos inteligentes vestíveis”, amigos dos lagartos, continham pequenos acelerómetros e transmissores de rádio sensíveis à temperatura para fornecer dados sobre a temperatura corporal e a aceleração dos lagartos.
Tal como outros répteis de sangue frio, os dragões barbudos dependem de fontes de calor externas para regular a temperatura do corpo, de modo a crescerem, digerirem os alimentos e reproduzirem-se eficazmente.
“O nosso estudo confirmou que estes dragões são, de facto, mestres na otimização do comportamento de acordo com as mudanças sazonais da temperatura do ar”, afirma Wild.
“Os dados mostram que os lagartos se movem estrategicamente entre locais ensolarados e retiros à sombra, num delicado ato de equilíbrio chamado termorregulação comportamental”, acrescenta.
Depois, uma descoberta surpreendente.
De acordo com Wild, a reviravolta aconteceu quando a equipa de investigação analisou a temperatura ideal dos dragões para atingir a velocidade máxima e a relação entre a velocidade e os resultados de sobrevivência. Peculiarmente, os dados mostraram que os lagartos com velocidades mais elevadas tinham um maior risco de mortalidade.
“O que acreditamos estar a acontecer é que os lagartos velozes estão a adotar comportamentos mais arriscados, tais como movimentarem-se de forma mais aberta e frequente, tornando-os vulneráveis a predadores como aves e gatos”, explica.
“Descobrimos que o aumento do risco era especialmente pronunciado durante a primavera, o que faria sentido se os dragões se deslocassem muito mais à procura de companheiros”, revela.
Embora se parta do princípio de que “quanto mais rápido melhor” na sobrevivência dos animais, estas descobertas invertem este pressuposto. Ser demasiado rápido pode, de facto, colocar estes lagartos em risco perante os predadores.
“Estas descobertas realçam uma realidade ecológica importante – o que é medido em ambientes laboratoriais controlados nem sempre reflete o que se passa em ambientes reais”, afirma Wild.
“Esta investigação recorda-nos que, na natureza, a sobrevivência não tem apenas a ver com a fisiologia, mas está profundamente ligada à interação entre o comportamento, o risco de predação e a variabilidade ambiental”, conclui.