Natureza revela “tecido” tridimensional que dá cor às asas da borboleta verde

A metamorfose das borboletas – do estado larvar ao adulto – continua a surpreender a ciência. Um novo estudo internacional desvenda agora um detalhe até aqui desconhecido sobre a forma como estas criaturas desenvolvem estruturas responsáveis pelas cores vibrantes das suas asas.
A protagonista da descoberta é a Parides sesostris, uma espécie neotropical observada em Gamboa, no Panamá. Investigadores acompanharam o desenvolvimento de crisálidas no Instituto Smithsonian de Investigação Tropical e recolheram amostras das asas em formação.
Esta borboleta apresenta nas suas asas estruturas complexas como os giróides, ou materiais nanométricos porosos organizados em redes tridimensionais altamente simétricas. Estas estruturas funcionam como cristais fotónicos, gerando a intensa cor verde através de um mecanismo de interferência estrutural, sem recurso a pigmentos.
Até agora, acreditava-se que estes giróides possuíam superfícies internas lisas. No entanto, um estudo conduzido por cientistas da Murdoch University, da Universidade da Austrália Ocidental e de outras instituições internacionais, publicado na revista PNAS, veio contrariar essa suposição.
A principal autora da investigação, a doutora Annie Jessop, explica que a equipa observou algo inédito nas escalas em desenvolvimento: “O giróides nas asas em formação não é nada liso – parece-se com uma trança ou uma corda. Só é visível através de microscopia eletrónica”. Segundo a investigadora, essa “tecelagem” desaparece na fase adulta da borboleta, dando lugar a uma aparência lisa, o que levanta uma nova questão: “Como ocorre essa transformação?”
A descoberta de uma fase intermédia no desenvolvimento das escalas altera significativamente a forma como se compreende a criação de estruturas complexas em insetos. A professora associada Peta Clode, do Centro de Caracterização e Análise por Microscopia da UWA, sublinha que ainda não é claro como estas estruturas altamente ordenadas se formam tão rapidamente no interior de uma célula. A equipa espera aprofundar este conhecimento através de novas abordagens interdisciplinares de imagem e análise.
Para além da beleza e complexidade estrutural da borboleta Parides sesostris, o estudo tem implicações mais vastas. “Estruturas como o giróides são comuns em várias membranas intracelulares e tecidos em organismos de todos os reinos da vida, mas a sua formação e função permanecem pouco compreendidas”, afirma Jessop.
Estabelecer esta borboleta como modelo de estudo poderá ajudar a desvendar como a natureza utiliza estas estruturas a nível microscópico. O professor Gerd Schröder-Turk, da Escola de Matemática, Estatística, Química e Física da Murdoch University, destaca o potencial inspirador da descoberta: “Ao demonstrar que é possível tecer fibras num giróides funcional, abrimos caminho para novas investigações em materiais biológicos, sintéticos e bioinspirados”.
“Quando pensamos que já compreendemos os métodos da natureza, ela revela mais um mistério fascinante”, conclui.