Entrevista a responsável da SDR Portugal: “Cada garrafa e cada lata têm valor”
Para a SDR Portugal, o dia 10 de abril de 2026 representa o ponto de viragem de um processo que começou com a atribuição da licença em 2024 e que exigiu avanços tecnológicos, logísticos e operacionais em larga escala. A instalação das máquinas de devolução, a criação dos centros de contagem e triagem e o desenvolvimento do sistema informático nacional estão já numa fase adiantada, garantindo que o arranque decorre com fiabilidade e conveniência. Em entrevista à Green Savers, Lia Oliveira, Diretora de Marketing e Comunicação da SDR Portugal, explica que o impacto do sistema será evidente tanto na redução do desperdício e no aumento das taxas de reciclagem, como na mudança cultural que envolve produtores, retalhistas e consumidores numa lógica de responsabilidade partilhada.
A responsável reconhece que a instalação de mais de duas mil máquinas em todo o país é um desafio sem precedentes, mas sublinha que o setor do retalho tem sido um parceiro central na construção de uma rede robusta e operacional. A tecnologia desempenhará um papel decisivo, desde a rastreabilidade individual de cada embalagem até à auditoria digital e à transparência do sistema.
Com um investimento superior a 150 milhões de euros e metas europeias exigentes, a SDR Portugal acredita que este é um passo determinante na transição do país para uma economia circular. A mensagem final é clara: o sucesso do sistema dependerá da participação de todos, porque cada garrafa e cada lata devolvidas contam.
O Governo anunciou recentemente que o Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) entra em vigor a 10 de abril de 2026. Que significado tem esta data para a SDR Portugal e em que ponto está o processo de preparação?
A data de 10 de abril de 2026 representa um marco histórico para a SDR Portugal e para o país. É o culminar de um processo de preparação que tem vindo a decorrer desde a atribuição da licença em 2024 e que envolve um trabalho intenso em várias frentes: tecnológica, logística, institucional e de comunicação. O Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) de embalagens de bebidas de uso único de plástico, alumínio e aço até três litros, tem como principal objetivo incentivar a reciclagem, promover a valorização dos materiais e envolver produtores e consumidores num modelo de economia circular. Uma mudança que vem transformar a forma como nos relacionamos com as embalagens de bebidas de uso único.
O Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) de embalagens de bebidas de uso único de plástico, alumínio e aço até três litros, tem como principal objetivo incentivar a reciclagem, promover a valorização dos materiais e envolver produtores e consumidores num modelo de economia circular. Uma mudança que vem transformar a forma como nos relacionamos com as embalagens de bebidas de uso único
Neste momento, a SDR Portugal encontra-se em fase avançada de implementação, com a instalação progressiva das máquinas de devolução automática (RVMs), o desenvolvimento do sistema informático nacional que permitirá rastrear todas as embalagens e os mecanismos de reembolso, bem como a criação dos centros de contagem e triagem e a definição da logística de recolha. Esta fase é determinante para garantir que, no arranque, o sistema funciona com a fiabilidade e conveniência necessárias para o consumidor. Estamos ansiosos por este 10 de abril, mas bem preparados.
O SDR representa uma mudança profunda na forma como os portugueses lidam com as suas embalagens de bebidas. Que impacto ambiental e social esperam alcançar nos primeiros anos após o arranque?
O impacto será transformador – não apenas nos números, mas também na forma como olhamos para as embalagens.
A SDR Portugal vai contribuir para reduzir o littering até 40% e aumentar substancialmente as taxas de recolha e reciclagem de embalagens, atingindo 90% da recolha deste tipo de embalagens até 2029. Esta recolha de alta qualidade permitirá gerar matéria-prima reciclada apta para contacto alimentar, fechando efetivamente o ciclo das embalagens.
Se no plano ambiental os números já impressionam, o impacto no plano social será igualmente profundo
Se no plano ambiental os números já impressionam, o impacto no plano social será igualmente profundo. A SDR Portugal representa uma mudança cultural que une e envolve cidadãos, produtores e retalhistas num esforço conjunto para valorizar recursos e reduzir desperdício. Somos privilegiados por estar na linha da frente desta transformação que marcará as próximas gerações.
A operação envolve a instalação de mais de duas mil máquinas de recolha em todo o país. Que desafios têm encontrado na implementação de uma rede desta dimensão?
A dimensão do projeto é inédita em Portugal e na Europa e exige uma coordenação total entre entidades públicas, operadores e retalhistas.
Os desafios passam por garantir a cobertura territorial equilibrada, com máquinas instaladas em todo o país, incluindo as regiões autónomas da Madeira e Açores, e assegurar a integração técnica e logística entre as 2500 máquinas (RVMs), o sistema informático central e os centros de contagem e triagem. Outro desafio é a adaptação dos espaços de retalho, que exigem condições adequadas para acolher as máquinas e os fluxos de embalagens. Paralelamente, estamos a assegurar a formação das equipas e a implementação de mecanismos de auditoria e antifraude que garantam a integridade do sistema. Tem sido um esforço conjunto para garantir que nada é deixado ao acaso e que há confiança entre todos os intervenientes.
Os desafios passam por garantir a cobertura territorial equilibrada, com máquinas instaladas em todo o país, incluindo as regiões autónomas da Madeira e Açores, e assegurar a integração técnica e logística entre as 2500 máquinas (RVMs), o sistema informático central e os centros de contagem e triagem
O envolvimento dos consumidores será determinante para o sucesso do sistema. Que estratégias de comunicação e sensibilização estão a ser preparadas para garantir uma adesão ampla?
Esse sim, será o maior desafio – envolver verdadeiramente o consumidor.
Estamos a preparar uma campanha nacional de comunicação centrada na educação, conveniência e na transparência do sistema. Queremos descomplicar ao máximo o que é o SDR, para facilitar a adaptação dos consumidores. O sucesso do Sistema dependerá disso: de o público compreender que é conveniente e vantajoso.
Antes do arranque, a 10 Abril de 2026, será promovido um conjunto de ações de sensibilização e demonstração prática, para que todos se possam familiarizar com o funcionamento do sistema e o processo de reembolso
Antes do arranque, a 10 Abril de 2026, será promovido um conjunto de ações de sensibilização e demonstração prática, para que todos se possam familiarizar com o funcionamento do sistema e o processo de reembolso.
Também o setor do retalho tem um papel central neste processo. Como tem sido a colaboração com os distribuidores e de que forma as lojas vão integrar o SDR no seu funcionamento diário?
O retalho é um pilar do sistema, tanto na vertente operacional, como na sensibilização dos consumidores. A SDR Portugal é constituída por um conjunto de empresas que reúnem mais de 90% do setor de bebidas e de retalho a operar no país, o que garante uma colaboração sólida e coordenada.
A SDR Portugal é constituída por um conjunto de empresas que reúnem mais de 90% do setor de bebidas e de retalho a operar no país, o que garante uma colaboração sólida e coordenada
As lojas vão integrar o SDR através de zonas dedicadas à devolução, devidamente sinalizadas, com máquinas automáticas de fácil utilização. Haverá formação para equipas de loja e integração dos fluxos de recolha na operação diária, assegurando uma experiência conveniente e fluida para o consumidor.
Ver todo o setor do retalho e os embaladores a trabalhar de forma unida em prol deste sistema, só nos dá mais certezas do quanto o mesmo é necessário e transformador para Portugal.
O sistema abrangerá garrafas e latas de bebidas como água, refrigerantes ou cervejas, mas exclui produtos lácteos e vinho. Por que motivo estes ficaram de fora e poderá essa decisão ser revista no futuro?
A exclusão de produtos lácteos e de vinho na fase inicial do Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) deve-se a razões técnicas e sanitárias. Estes produtos podem comprometer a qualidade dos materiais recolhidos e contaminar o processo de reciclagem.
A exclusão de produtos lácteos e de vinho na fase inicial do Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) deve-se a razões técnicas e sanitárias. Estes produtos podem comprometer a qualidade dos materiais recolhidos e contaminar o processo de reciclagem.
O foco do SDR é técnico e estratégico: começar pelos materiais com maior potencial de impacto ambiental e menor taxa de recolha – o PET e o metal – assegurando eficiência, rastreabilidade e cumprimento das metas europeias. Vamos aprendendo com a experiência internacional e dinamizando estudos em Portugal para nos guiarmos da melhor forma possível.
Portugal tem metas europeias exigentes: recolher 90% das embalagens até 2029 e assegurar 65% de material reciclado nas garrafas de plástico até 2040. Que planos e metas intermédias definiu a SDR para atingir esses objetivos?
Exigentes, mas possíveis. Diz-nos a experiência internacional, nos SDRs dos restantes países da europa, que na média se atingem taxas de recolha de 90% após poucos anos de implementação dos sistemas. Este facto é um garante de que o nosso caminho é alcançável e que conseguiremos atingir de uma forma evolutiva até à recolha seletiva de 90% em 2029, com um investimento contínuo em tecnologia, sensibilização e eficiência logística. Paralelamente, o sistema contribuirá para que as garrafas de plástico incorporem, até 2040, 65% de material reciclado, fechando o ciclo da economia circular.
O nosso caminho é alcançável e que conseguiremos atingir de uma forma evolutiva até à recolha seletiva de 90% em 2029, com um investimento contínuo em tecnologia, sensibilização e eficiência logística. Paralelamente, o sistema contribuirá para que as garrafas de plástico incorporem, até 2040, 65% de material reciclado, fechando o ciclo da economia circular.
2026 será um ano decisivo para que consigamos alcançar excelentes resultados.
A tecnologia será um dos pilares do SDR. Que soluções digitais e logísticas estão a ser desenvolvidas para garantir a eficiência, o controlo e a transparência do sistema?
A tecnologia é, de facto, o coração do Sistema de Depósito e Reembolso. A SDR Portugal está a implementar um sistema informático nacional que assegura a recolha e integração de dados em tempo real, desde a disponibilização das embalagens até à sua devolução e reciclagem.
Cada garrafa e lata será identificada por um código exclusivo (EAN-SDR) e reconhecida automaticamente pelas máquinas de devolução (RVMs), o que permite garantir rastreabilidade total, auditoria digital e controlo antifraude.
Do ponto de vista logístico, estão a ser desenvolvidos centros de triagem e contagem tecnologicamente equipados, responsáveis por garantir a qualidade do material recolhido e otimizar as rotas de transporte. O sistema será ainda acompanhado por mecanismos de supervisão contínua, sob a tutela da APA, da DGAE e da ERSAR, assegurando transparência, segurança e confiança pública.
Trata-se de uma infraestrutura inteligente, capaz de gerar informação em tempo real e de garantir que cada embalagem tem um destino certo, contribuindo para um modelo de economia circular plenamente digitalizado e monitorizado
Em suma, trata-se de uma infraestrutura inteligente, capaz de gerar informação em tempo real e de garantir que cada embalagem tem um destino certo, contribuindo para um modelo de economia circular plenamente digitalizado e monitorizado.
Para além da vertente ambiental, o SDR pode também gerar valor económico e social. Que impacto espera que tenha na economia circular e na criação de novas oportunidades no setor da reciclagem e gestão de resíduos?
A SDR Portugal representa uma nova economia circular em ação, com impacto ambiental, económico e social. A sua implementação implica um investimento nacional superior a 150 milhões de euros, totalmente financiado pelas empresas aderentes.
Mais do que um sistema, é um motor de transformação económica. A SDR Portugal vai gerar novas cadeias de valor na indústria da reciclagem e na inovação tecnológica, potenciando o desenvolvimento de materiais recicláveis de alta qualidade e incentivando o investimento em tecnologias verdes. O resultado será um país mais verde e mais sustentável.
Contribuirá para reduzir até 40% do littering e diminuir significativamente o lixo marinho, reforçando a credibilidade ambiental de Portugal e o cumprimento dos compromissos europeus.
Além disso, contribuirá para reduzir até 40% do littering e diminuir significativamente o lixo marinho, reforçando a credibilidade ambiental de Portugal e o cumprimento dos compromissos europeus.
Que mensagem gostaria de deixar aos consumidores portugueses sobre o papel que cada um pode desempenhar neste novo modelo de consumo?
Antes de mais, que cada cidadão em Portugal entendesse que a sua adesão a este Sistema é fundamental.
Cada cidadão terá um papel essencial nesta mudança. O Sistema de Depósito e Reembolso só será um sucesso se todos participarem, porque cada embalagem devolvida conta.
A mensagem é simples: cada garrafa e cada lata têm valor. Ao devolvê-las, estamos a dar-lhes uma nova vida, a contribuir para um ambiente mais limpo e para um país mais sustentável
A mensagem é simples: cada garrafa e cada lata têm valor. Ao devolvê-las, estamos a dar-lhes uma nova vida, a contribuir para um ambiente mais limpo e para um país mais sustentável.
Este é um sistema feito para todos e pensado para ser conveniente, transparente e acessível. Com um gesto rápido, no supermercado mais próximo, cada pessoa pode fazer parte de uma transformação nacional. Com este passo, Portugal dá um salto importante na transição para a economia circular. E o sucesso dependerá da adesão e do compromisso de cada um de nós.