Regresso à Lua em 2027 acelera investigação sobre como viver e produzir alimentos fora da Terra



Dentro de dois anos, os seres humanos regressarão à Lua pela primeira vez em 55 anos. A missão Artemis III, da NASA, prevê uma permanência de menos de dez dias na superfície lunar, mas a comunidade científica internacional já está focada no passo seguinte: compreender como viver, produzir alimentos e prosperar fora da Terra.

Um consórcio global composto por mais de 40 cientistas, provenientes de 11 países e de sete agências espaciais, apresentou um novo roteiro para os avanços científicos e tecnológicos necessários para tornar possível a presença humana prolongada na Lua e, mais tarde, em Marte.

O trabalho, publicado na revista New Phytologist sob o título “Expanding frontiers: harnessing plant biology for space exploration and planetary sustainability”, traça uma visão internacional comum sobre o papel das plantas no suporte à vida no espaço e na promoção de uma agricultura mais sustentável no próprio planeta.

@L. Fountain

“Na Terra, as plantas são o nosso sistema de suporte de vida”, recorda o investigador da NASA, Elison Blancaflor. “Fornecem alimento, oxigénio, purificação da água e até conforto psicológico. Sem plantas, manter a vida durante longas missões na Lua, em Marte ou além será muito mais desafiante.”

Entre os contributos do estudo está a criação de um novo quadro de avaliação, o “Bioregenerative Life Support System (BLSS) Readiness Level”, que expande a escala da NASA para avaliar culturas. O objetivo é medir a capacidade das plantas para reciclar ar, água e nutrientes em habitats espaciais, garantindo que, além de alimento, asseguram funções vitais de suporte de vida.

O artigo destaca ainda:

  • Os avanços recentes na ciência das culturas para utilização no espaço e as prioridades de investigação para os próximos anos;

  • O potencial da biologia sintética e da agricultura de precisão para desenvolver plantas adaptadas ao espaço e mais resilientes às alterações climáticas na Terra;

  • Os benefícios psicológicos e sensoriais associados ao cultivo e consumo de produtos frescos no espaço;

  • A próxima experiência LEAF (Lunar Effects on Agricultural Flora), que deverá cultivar e trazer de volta as primeiras plantas crescidas na Lua, integrada na missão Artemis III;

  • A necessidade de uma colaboração internacional sólida e coordenada para desenvolver explorações agrícolas auto-suficientes na Lua e em Marte, num contexto pós-ISS, uma vez que a Estação Espacial Internacional deverá ser desativada por volta de 2030.

“À medida que aprendemos a cultivar plantas no espaço, também melhoramos a forma como produzimos alimentos na Terra”, sublinha Luke Fountain, investigador da NASA e autor principal do estudo. “As tecnologias criadas para a Lua e Marte vão ajudar a enfrentar desafios globais relacionados com alimentação, energia e sustentabilidade”, garante.

Este trabalho assenta em discussões do workshop Plants for Space Exploration, promovido pelo International Space Life Sciences Working Group (ISLSWG) durante a conferência da European Low Gravity Research Association (ELGRA), realizada em Liverpool em 2024.

Raúl Herranz, membro da direção da ELGRA e delegado do grupo de ciências da vida da ESA, reforça “a importância das parcerias internacionais para apoiar a exploração humana do espaço através de uma abordagem científica multilateral”.

Para o professor Matthew Gilliham, diretor do ARC Centre of Excellence in Plants for Space, na Universidade de Adelaide, e coautor do artigo, a investigação tem impacto direto na vida na Terra:
“As descobertas feitas para o espaço ajudam-nos a construir um futuro mais sustentável aqui. As inovações que permitirão a sobrevivência dos astronautas na Lua — como a agricultura em circuito fechado, a reciclagem e a eficiência no uso de recursos — são as mesmas que transformarão a forma como produzimos alimentos e medicamentos em qualquer ponto do planeta, das grandes cidades às regiões mais remotas, em qualquer altura do ano”, sublinha.






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