Daniel Castilho: “O Preço do Crescimento Económico”
Crescer! Crescer! Crescer! Parte de um simbólico grito de guerra que se esgota num discurso inconsequente, daquela que nos parece a única forma de sair deste buraco financeiro. O ecoar de uma palavra que mais do que um estimulo, me deixa apenas uma modesta impaciência perante o possível resultado deste jogo económico.
É tudo o que se pede em todo o lado. Crescer! Temos de crescer! E crescemos de facto. Temos quanto mais não seja, um crescimento infindável dos discursos, a pregar o crescimento infinito (se é que me perdoam a incongruência). Cresce também esta profunda amargura e indiferença, sobre a vitória num jogo perdido e de resultados questionáveis. As nossas aspirações a competir com o melhor dos crescimentos, estão à partida de rastos. E para quê competir? Quando o preço é assim tão elevado. Ainda que possivelmente reduzido a um qualquer olhar míope.
Isto porque o olhar tendencioso com que aclamamos a grandiosidade económica de muitas potências, os números da sua expansão e crescimento imbatíveis, tem desprezado incessantemente, a outra metade da história. A expansão e o crescimento económico de muitos países, têm sido invariavelmente acompanhados por uma panóplia de efeitos negativos. Sobre estes, a realidade chinesa será porventura a mais crítica. Pequim, o epicentro da mais poderosa economia do mundo, alcançou recentemente níveis de poluição do ar entre 30 a 45 vezes superiores aos recomendados. O aumento de doenças crónicas na cidade, em especial do sistema respiratório, espelha particularmente bem, esta realidade ambiental. A juntar à alienação dos direitos humanos no país, que revelam mutuamente as causas e as consequências, de um crescimento particularmente irracional.
Mas nem só os países em desenvolvimento, se deixam melindrar por este pseudo-crescimento. O Canadá abandonou no ano passado o Protocolo de Quioto, o único acordo internacional que impõe sanções aos países, mediante as suas práticas ambientais. E porque perguntam? Duas palavras: areias betuminosas (ou tar sands). A exploração das areias betuminosas canadianas (das quais se extraem compostos de petróleo), tem impactado de forma positiva, o crescimento económico do país. Um crescimento desmedido, que é ignorante aos problemas ambientais que tem causado. Primeiramente, é necessário o abate de árvores e a eliminação de florestas inteiras, para aceder às areias que se encontram nas suas profundezas. A posterior extracção, requer enormes quantidades de água e substâncias tóxicas, que se disseminam pelo ar e pelos rios, contaminando os peixes, e envenenando muitos dos povos indígenas, que ainda habitam aquelas zonas. Provavelmente, um dos maiores problemas ambientais dos tempos modernos. Um representante de mérito desta economia do desastre contemporânea.
Assim se impõem as questões. Qual é o verdadeiro preço, deste crescimento económico? Queremos continuar a crescer desta forma? Será sequer possível, que esta ideia de crescimento seja sinónimo de progresso?
Estamos a retirar os lucros financeiros dos prejuízos ambientais. Vivemos uma economia do desastre. Em que crescer significa consumir, desarrumar e destruir a nossa própria casa. Um desastre significa por si e em si, uma oportunidade para se fazer mais alguma coisa. Fazer por fazer, como que na amortização de uma dívida que temos para com a vida. O que teimamos em não assimilar, é esta idealização de um valor para tudo, da monetização generalizada, o preço para fazer mal ou bem. Ele é baixo porque estamos somente, a remeter os custos para o futuro.”
Daniel Castilho é leitor do Green Savers. Quer publicar o seu artigo no nosso agregador? Envie-nos o seu texto para info@greensavers.sapo.pt ou cmartinho@gci.pt. Estamos à procura da sua inspiração ou desabafo.