Que impacto tem o arroto das vacas e ovelhas no ambiente?
Pode uma vaca tornar-se num carro? A questão até pode soar a piada, mas a resposta é um assunto sério para os produtores de carne. A carne vermelha está a sofrer com as consequências de uma onda de má reputação na imprensa. A confiança dos consumidores foi estilhaçada pelo escândalo da carne de cavalo e as preocupações sobre o impacto ambiental da criação de bovinos e ovinos para consumo está igualmente a aumentar.
Com todos estes receios combinados, há o risco de que comer carne vermelha se torne cada vez menos popular. Num mercado competitivo, os produtores devem tomar medidas para evitar mais comparações negativas com a carne de porco e de frango, que tendem a causar uma menor pegada ecológica no planeta.
Conheça as dicas partilhadas pelo The Guardian.
Aproveitar a tendência da indústria automóvel
Se a indústria da carne vermelha quer prosperar, deve aproveitar a tendência de um sector muito diferente que tem vindo a enfrentar um desafio semelhante durante os últimos anos – a indústria automóvel. Os fabricantes de automóveis estão a enfrentar o aumento dos custos dos combustíveis e a legislação de redução das emissões para combater as mudanças climáticas. A arma usada para enfrentar estes desafios tem sido a inovação.
Na última década, as emissões médias de CO2 dos tubos de escape dos carros novos foram cortadas em 17% – resultado principalmente de uma tendência de criação de motores mais eficientes e inovações como carros eléctricos ou híbridos. Essas poupanças têm surgido através de um exame minucioso de todos os processos envolvidos na produção de um carro e de todos os aspectos do funcionamento de um veículo – pois que a indústria da carne deve seguir o mesmo caminho.
Análises da pegada de carbono na agricultura revelaram que cerca de 30% é causada por emissões de carbono relacionadas com a produção de carne e pelo uso de fertilizantes nos campos. Mais de 40% deriva do metano produzido por arrotos dos animais – 21 vezes mais potentes que o dióxido de carbono para as alterações climáticas. O resto provém da produção de fertilizantes, combustíveis, electricidade e desflorestação resultante da pecuária.
Ao longo dos últimos cinco anos, a Carbon Trust tem ajudado várias organizações a investigar a pegada de carbono do gado nas quintas. Milhares de agricultores têm sido envolvidos no programa. O objectivo é ajudá-los a identificar as maiores fontes de emissões de carbono, onde podem ser implementadas melhorias.
Enfrentar o desafio da pegada de carbono
O passo seguinte é perceber como lidar com essas emissões. Como a indústria automóvel tem demonstrado, ser mais eficiente em termos de carbono significa muitas vezes abolir custos desnecessários. Melhores conhecimentos podem originar novas formas de trabalhar e ajudar os agricultores a enfrentar o aumento do preço das rações animais e as crescentes preocupações ambientais dos consumidores.
Uma das primeiras empresas a assumir este desafio é a GrowHow, o grande fornecedor de fertilizantes do Reino Unido. A empresa pretende diferenciar-se dos rivais, medindo e gerindo a sua pegada de carbono. Parte desse processo envolve o trabalho com os agricultores para os ajudar a usar fertilizantes de forma mais eficiente e eficaz, reduzindo os custos e melhorando a produtividade. Estas actividades podem de facto causar um grande impacto na pegada ecológica da carne.
E os benefícios financeiros andam de mãos dadas com a eficiência. Um estudo com 60 explorações de bovinos e ovinos realizado pela Eblex descobriu que por cada 1Kg de cortes nas emissões de carbono por quilograma de peso animal, os agricultores aumentam as margens de lucro em €33 (R$ 86).
Algumas das mudanças necessárias para melhorar os lucros são bastante simples – uma poupança energética de até 20% pode ser conseguida com uma gestão simples dos comportamentos. Por exemplo, desligando equipamentos não utilizados ou tubos isolantes.
A investigação mais técnica está a debruçar-se na forma de reduzir as emissões de arrotos das vacas e ovelhas. Actualmente, pouco se sabe sobre o sistema digestivo das vacas, mas um maior investimento nesta área pode ajudar a desenvolver novos conhecimentos capazes de reduzir drasticamente o impacto ambiental.
A indústria precisa de fazer a sua parte no aumento do investimento em inovação – ela é necessária para mostrar que a carne vermelha pode desempenhar um papel importante numa economia sustentável. Os automóveis têm mostrado o caminho a seguir, agora cabe aos produtores, em conjunto, colocar o pé no acelerador.
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