Última história do jornalista da AFP assassinado em Cabul era sobre um leão
Na última semana, o zoo de Cabul revelou a sua última atracção – Marjan, um leão que viveu num terraço da cidade até ser resgatado pela protecção animal no último ano, à beira da morte.
O animal, ainda pequeno, foi comprado por um empresário da capital afegã, como símbolo do seu status, por €14.500 (R$46.400). Desde que foi adquirido, o leão foi mantido num terraço. Contudo, o animal de rápido crescimento estava seriamente doente quando as autoridades municipais o resgataram em Outubro passado.
“Encontrámo-lo em condições terríveis. Estava quase morto. Não se conseguia mover, nem mesmo levantar a cabeça”, indicou Abdul Qadir Bahawi, veterinário, à AFP. “Não tínhamos a certeza se ia sobreviver. Mas os nossos esforços valeram a pena e ele está muito melhor. Agora, adora brincar connosco. Acho que gosta muito de nós”, afirmou.
Marjan foi baptizado em honra do famoso leão meio cego que viveu no zoo de Cabul e tornou-se um símbolo nacional da sobrevivência afegã, depois de ter vivido entre golpes de Estado, invasões, guerra civil e do período Taliban, antes de morrer em 2002.
O primeiro Marjan nasceu em 1976 e foi cego por uma granada atirada por um soldado vingativo, cujo irmão tinha sido morto após entrar na jaula do animal.
O novo Marjan foi notícia internacional quando a AFP o encontrou no último ano, a viver num terraço de um telhado de um complexo de luxo na zona de Taimani. O seu dono negou que a situação do leão fosse cruel e asseverou que estava a tratar bem do animal, alimentando-o diariamente com carne fresca, mas a saúde do leão deteriorou-se rapidamente devido às condições onde vivia.
As autoridades governamentais retiraram-no ao proprietário e colocaram-no num programa intensivo de reabilitação de cinco meses no jardim zoológico para que pudesse recuperar a saúde. “O Marjan come cerca de oito quilos de carne todos os dias às 16 horas”, afirmou Qurban Ali, tratador do animal no zoo. “Tem estado a recuperar bem. Come uma perna inteira de vaca, incluindo os ossos”.
Marjan, que tem cerca de um ano, será apresentado ao público pela primeira vez quando for transferido para uma jaula maior, que irá partilha com uma leoa doada pela China. O veterinário do animal espera que haja possibilidade de os dois animais acasalarem, mas indica que é pouco provável. “O Marjan está pronto, mas ela tem mais de 15 anos e foi sujeita a duas operações de risco. Acho que é demasiado velha”, indicou Bahawi.
Sardar Ahmad, repórter de 40 anos da Agence France Press (AFP), foi assassinado pouco depois de escrever esta reportagem, no Hotel Serena, em Cabul, Afeganistão. Também a sua mulher e dois dos seus filhos morreram durante o ataque ao hotel, que foi reivindicado pelos Taliban. Esta foi a última reportagem escrita por Ahmad.