Cães também estão a sentir o transtorno de stress pós-traumático do conflito de Gaza
A guerra não deixa apenas o seu rasto de destruição nas paisagens urbanas e na vida humana, mas também na vida dos animais e das plantas.
Dentro dos animais, os cães são a espécie que mais está sujeita aos danos do conflito. Os cães de Israel e da Faixa de Gaza, aterrorizados pelo som das sirenes e dos bombardeamentos, estão a revelar sinais de transtorno de stress pós-traumático, escreve o jornal israelita Haaretz.
Embora a comunidade veterinária possa deliberadamente aplicar o rótulo de transtorno de stress pós-traumático ao comportamento dos animais, não existe um debate sério sobre os transtornos emocionais que os cães de guerra experienciam.
De acordo com Nicholas Dodman, veterinário da Tufts University no Massachussetts, especializado em comportamento canino, os problemas decorrentes do trauma são, durante vários anos, sinais de transtorno de stress pós-traumático.
Dodman descreve mesmo ao Haaretz o comportamento de um cão que foi baleado e sobreviveu. “[O cão] era totalmente ansioso, hiperventilava e não conseguia dormir. Aparentemente estava a sonhar… Quando os donos me trouxeram este cão, eles não conseguiam ter uma noite inteira de sono há dois anos. Eles tinham de fazer turnos para alguém ficar sempre com o cão de noite porque o animal era extremamente ansioso”, descreve o veterinário.
Ofra Gallily, veterinária israelita e perita em comportamento animal, não acredita que os cães possam sofrer de transtorno de stress pós-traumático, mas reconhece que os animais “podem certamente apresentar sintomas pós-traumáticos”. O trauma pode exacerbar os problemas ao nível das transmissões químicas cerebrais de um cão, fazendo com que os problemas durem anos, como explica a veterinária.
O exército norte-americano, por exemplo, tem mesmo uma sigla para o que os seus cães militares sentem: CPTSD, canine post-traumatic stress disorder.
Embora o stress pós-traumático canino seja diferente do humano, não significa que o problema seja de menor gravidade. Os cães que desenvolvem este trauma experienciam uma variedade de alterações comportamentais: tornam-se mais vigilantes, tímidos ou deixam de desempenhar as tarefas para as quais foram treinados.
Através de medicação, como o xanax, e de treino, estes cães podem voltar a ter uma vida mais normal, mas não há cura para o transtorno e “os cães nunca esquecem”, como indica Nicholas Dodman.
Foto: The U.S. Army / Creative Commons