O que o casamento de Kate e William nos pode ensinar sobre mobilidade social
Para a família materna de Kate Middleton bastaram quatro gerações para se mudar, em termos sociais, das minas de carvão de Durham, onde trabalhou o bisavô de Carole, mãe de Kate – e o seu pai e avô – para o Palácio de Buckingham.
Este facto – que até pode ser condimentado com o nome do empregador do trisavô de Kate, a BowesLyons, detida pela família da mãe de Isabel II – foi ontem aproveitado pelo Financial Times para uma análise sob um ponto de vista diferente: o da mobilidade social.
Uma discussão que, para sermos sinceros, foi recolocada recentemente na sociedade britânica, através das declarações do primeiro-ministro David Cameron de que iria “fazer mais para ajudar as pessoas a vir das [classes] mais baixas para o topo do topo [da pirâmide social]”.
O Financial Times, que colocou a questão, acredita menos em contos de fadas destes e mais em factos, números e estatísticas. O jornal chega à conclusão de que, por várias razões, a mobilidade social no Reino Unido estagnou ou até decresceu a partir dos anos 70.
O jornal socorreu-se, por exemplo, dos dados da prevalência da educação privada – que representa 7% da população – em profissões ditas de topo. Assim, 32% dos deputados recebeu educação privada, um número que sobe aos 51% quando falamos de médicos, aos 54% para os jornalistas de topo e à lista dos 100 CEOs da FTSE, aos 68% no que toca aos advogados de topo e a uns espantosos 70% quando falamos de juízes do supremo.
Os factos tornam-se ainda mais claros quando falamos da taxa de entrada nas universidades mais selectas. Entre 1997 e 2009, a taxa de universitários vindos das classes mais elevadas cresceu mais de 3%, contra os jovens vindos de zonas menos beneficiadas financeiramente, cujo número permaneceu praticamente igual.
Ironicamente – e aqui podemos juntar, porventura, o exemplo português – a grande expansão do ensino superior não tem contribuído para uma maior mobilidade social. Isto embora o número de jovens britânicos com 18 anos a frequentar a universidade tenha subido dos 3% em 1960 para os 40% de hoje.
“Embora cada vez mais alunos tenham entrado no ensino superior, as proporções vindas da classe trabalhadora não mudaram muito”, explica o FT, que é corroborado por Jonathan Portes, director do Instituto Nacional de Pesquisa Económica e Social britânico.
“Enquanto cada vez mais miúdos vindos da classe operária chegaram ao ensino superior, também mais adolescentes das classes superiores o fizeram. E, à medida que as proporções permaneceram iguais, o efeito até pode ter sido a redução da mobilidade social”, explica Portes.
O FT completa o artigo com o depoimento de Alan Milburn, ministro do Governo de Tony Blair e que agora é consultor da coligação de centro direita para a área da mobilidade social. Milburn, ele próprio vindo das classes mais baixas, explica que hoje a sua ascensão ainda seria possível. “Sim, ainda seria possível, mas mais dura, mais difícil”, revelou.
E o caro leitor, como avalia a mobilidade social em Portugal, no Brasil ou em Angola? Gostaríamos de saber as vossas opiniões, neste agregador, no Twitter ou no Facebook.
PS: O Financial Times disponibiliza também uma tabela com dados de mobilidade social de nove países, tendo em conta a relação entre os rendimentos de pais e filhos. Nestes dados, o Brasil aparece como o País com maior mobilidade social, entre a Dinamarca, Canadá, Alemanha, Austrália, França, Itália, Reino Unido e Estados Unidos.