A receita das Honduras que está a levar uma espécie de iguana à extinção
A carne de iguana faz parte da cozinha da América Central há muito. Para quem prefere ter estes animais como companhia a ideia pode ser tão desagradável como comer carne de cão. Mas as culturas civilizacionais são muito diferentes nas várias partes do mundo.
A carne de iguana é tão popular na Améria Central que existem quintas de criação destes animais em El Salvador, que chegam a exportar carne para a Ásia e para a América do Norte. Durante uma seca severa que afectou a Nicarágua durante este ano, o governo recomendou aos seus cidadãos consumirem carne de iguana em vez de outro tipo de carne.
Contudo, o consumo de carne de iguana nas Honduras está a tornar-se um problema. Muitas das espécies de iguana que habitam no território do país estão já ameaçadas pela perda de habitat. A iguana do Vale de Aguán é uma das espécies mais ameaçadas na América Central e, contudo, é uma das espécies mais procuradas pela sua carne. Estima-se que existam apenas 5.000 exemplares no vale do rio Aguán, de onde são nativas.
Investigadores do Zoo de San Diego e da Universidade Nacional Autónoma das Honduras fizeram um inquérito aos habitantes da zona para avaliarem o grau de percepção da população sobre o declínio da espécie e também para perceberem se há forma de o travar.
Uma das principais conclusões do inquérito foi a forma como as iguanas estão a diminuir e tudo está relacionado com a forma como são cozinhadas. Aparentemente, a melhor forma para servir estas iguanas é com os seus ovos, o que significa que quando as fêmeas são caçadas estão cheias de ovos e a sua carne é mais valiosa.
Assim, a população decresce não só pelas iguanas adultas que são capturadas como pelas futuras gerações que nunca chegam a nascer. Porém, além do problema dos ovos, a carne de iguana tem ainda uma grande reputação em toda a América Central. Nesta região do globo, a carne deste animal é considerada uma cura para todos os males, desde as constipações à impotência sexual, escreve o Motherboard.
Esta reputação estende-se às Honduras, onde 38% dos habitantes inquiridos pelos investigadores consideram que a carne de iguana é medicinal. Porém, a maioria dos inquiridos, especialmente os mais velhos, está ciente da redução dos números nas populações de iguana. Mas a solução para o problema não é simples. Esta região do Vale de Aguán é particularmente pobre e a população vive em pequenas comunidades que subsistem da pequena agricultura.
O inquérito denota ainda que os objectivos a longo-prazo dos conservacionistas e habitantes são os mesmos: mais iguanas. Porém, a curto-prazo, há um conflito de objectivos.
Foto: Landfotograf / Creative Commons