Como os estudos científicos manipulados são uma bomba relógio para a nossa saúde



Se lê o Green Savers com regularidade é várias vezes confrontado com estudos científicos que apontam para diversas direcções e conclusões, muitas delas contraditórias, sobre todo o tipo de temas e áreas.

No entanto, a discussão sobre a veracidade destes estudos reacendeu-se nas últimas semanas, nos Estados Unidos, devido a uma causa externa: um surto de sarampo e papeira – o que mais rápido cresceu desde que a primeira foi declarada eliminada nos Estados Unidos.

Segundo o Huffington Post, este surto poderá ter como pano de fundo um pedaço de literatura científica publicado – e desacreditado – em 1998 por Andrew Wakefield, no jornal Lancet. O estudo – falso – revelava uma ligação entre as vacinas para sarampo, papeira e rubéola e o autismo infantil.

Depois de ser publicado, o estudo foi declarado falso por uma investigação de um jornalista inglês. Wakefield, um gastroenterologista britânico, caiu em desgraça até lhe ser retirada a licença médica.

No entanto, passados quase 20 anos, o estudo ainda consegue gerar medo e dúvida sobre estas três vacinas, levando muitos pais a ignorá-las. E será esta acção que gera novos surtos todos os anos. Hoje, uma rápido pesquisa online encontra todo o tipo de sites – muitos deles pagos – que ligam as vacinas ao autismo, algo que, de acordo com a comunidade médica e científica, é completamente falso.

Manipular os estudos para ganhar visibilidade

Outro dos estudos falsos relatados por este artigo do Huffington Post foi desenvolvido na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e sugeria que a alimentação orgânica não providenciava um grande valor nutritivo ou um menor risco de saúde em relação às comidas processadas.

Lançada em 2012, a pesquisa foi rapidamente atacada por especialistas nesta área, que a consideraram manipulada: alguns dos nutrientes que, em pesquisas anteriores, se mostraram mais activos nos orgânicos foram simplesmente ignorados, o que alterou as conclusões.

O estudo também explicou que os produtos orgânicos tinham 30% menos risco de contaminação por pesticidas, quando comparados às frustas e vegetais convencionais. No entanto, esta percentagem chega aos 81%.

Ainda que a desonestidade académica seja rara, ela existe. Muitos dos investigadores preferem conclusões bombásticas a outras, uma vez que as primeiras chamam a atenção para o seu nome no meio académico e sociedade. Também os meios e jornais preferem os estudos mais polémicos.

“Para os consumidores, é difícil navegar [nestes estudos]”, explicou Cynthia Curl, cientista de saúde ambiental da Bois State University, Estados Unidos. Um exemplo: uma pesquisa no Google sobre “alimentos orgânicos saúde” leva-nos directamente ao estudo de Stanford, cujo comunicado diz que “existem poucas provas dos benefícios dos alimentos orgânicos para a saúde”. O que é falso.

Uma análise publicada esta semana no jornal JAMA de Medicina Interna descobriu que a FDA (Food And Drug Administration) norte-americana identificou várias vezes o problema das pesquisas fraudulentas, mas raramente avisa as publicações destes erros. Porquê? Ninguém sabe.

Se acrescentarmos a esta receita uma grande quantidade de jornalistas sem formação científica na matéria e consumidores que acreditam na comunidade académica e científica, então temos uma bomba relógio para a nossa saúde e bem-estar.

Foto: Sue Clark / Creative Commons





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