Bairro da Boavista: coopetir pela poupança (com FOTOS)
“Coopetir” é o termo resultante da combinação entre as palavras “cooperar” e “competir”. E foi exactamente “coopetir” pela poupança o que fizeram cerca de 100 famílias do Bairro da Boavista, em Lisboa, entre Setembro de 2013 e Janeiro de 2014.
O Projecto “Coopetir” tratou-se de um desafio proposto aos moradores do Bairro da Boavista para que cooperassem entre si de forma a promover a poupança de electricidade, água e gás. Pretendia-se que os “coopetidores” encontrassem formas de reduzir os desperdícios nas suas casas e aplicassem medidas de poupança que se reflectissem nas facturas ao final do mês.
Inserido no programa de intervenção “EcoBairro Boavista Ambiente+ Um Modelo Integrado de Inovação Sustentável” da Câmara Municipal de Lisboa e financiado pelo QREN, o projecto “Coopetir” foi dinamizado pela Lisboa E-Nova – Agência Municipal de Energia e Ambiente, a convite da autarquia lisboeta. Este bairro de Benfica, onde moram cerca de 5.000 pessoas, estava classificado com Bairro de Intervenção Prioritária de Lisboa devido à sua situação deficitária aos níveis económico, social, ambiental e urbanístico.
“Rapidamente constatámos que a melhor maneira de chegar aos moradores do bairro seria através dos próprios moradores. Assim, foi estabelecida uma importante parceria com a Associação Recreativa de Moradores e Amigos do Bairro da Boavista (ARMABB) e formou-se uma equipa de sete monitores residentes no bairro, de modo a estabelecer a interacção com os restantes residentes”, explicou ao Green Savers Diana Henriques, engenheira ambiental e coordenadora do projecto.
Os sete monitores do projecto encarregaram-se de distribuir a “Eco-caderneta Eco-Bairro Boavista Ambiente +”, uma caderneta com pistas para a poupança e propostas de melhoria do ambiente do bairro. “A Eco-caderneta foi inicialmente distribuída porta-a-porta pelas 1.500 residências do Bairro da Boavista, desafiando em simultâneo as famílias a participar no programa ‘Coopetir’”, indica a coordenadora.
Através da ARMABB, a Lisboa E-Nova recebeu 250 inscrições para o projecto. “Uma vez que não tínhamos meios para abranger todas as famílias foi apenas possível abrir a iniciativa a 100 agregados familiares. A selecção das famílias foi realizada de modo aleatório, garantindo, no entanto, uma distribuição geográfica dispersa por todo o bairro”, adianta Diana Henriques.
Factor chave para o sucesso do programa foram os sete monitores, como destaca a coordenadora do projecto. “Após terem recebido a formação apropriada através da Lisboa E-Nova, os monitores apoiaram directamente as 100 famílias, na expectativa de que estas partilhassem as práticas adquiridas com as restantes famílias do bairro”.
“Coopetição” gerou poupança
Durante os seis meses em que as famílias do Bairro da Boavista competiram e cooperaram entre si registaram-se poupanças significativas nas facturas da água e da electricidade – o gás foi o consumível onde as famílias menos conseguiram reduzir.
No que concerne à electricidade, as famílias participantes conseguiram uma redução de 77% do consumo. Na água a poupança registada foi de 55%. Em último lugar ficou o gás, com uma redução de 28%. Entre as medidas mais utilizadas pelas famílias para reduzir nas facturas a responsável do projecto indica a troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas economizadoras, a instalação de válvulas de redução de caudal no duche e a utilização de termómetros no frigorífico e congelador de forma a evitar o desperdício de energia ou comida.
No final do projecto as famílias com as maiores poupanças em cada uma das categorias – água, gás e electricidade – foram distinguidas com o Prémio “Coopetir”. As restantes famílias receberam um prémio de participação. Também o projecto “Coopetir” foi distinguido na última edição do Green Project Awards com uma menção honrosa na categoria de Consumo Sustentável.
“É nossa expectativa que este projecto de sustentabilidade ambiental, que visou igualmente prestar um serviço social de base aos moradores do Bairro da Boavista, possa vir a ser, pela sua exemplaridade e metodologia colaborativa, replicado em outros bairro de Lisboa”, afirma Diana Henriques.
Este artigo faz parte de um vasto trabalho sobre os vencedores do Green Project Awards 2014. Todos os vencedores da iniciativa portuguesa podem ser consultados neste link.
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Fotos: Lisboa E-Nova – Agência Municipal de Energia e Ambiente