Pacífico: 10 milhões de habitantes na encruzilhada irónica da água
Os cientistas esperam que a Ilha-Nação de Tuvalu esteja debaixo de água até ao final do século mas, por incrível que pareça, essa não é a principal preocupação dos 11.000 habitantes da ilha. Entre as ilhas do Pacífico, Tuvalu é a que está mais dependente do armazenamento da água da chuva.
O problema em si não é a falta de chuva, mas a dificuldade dos seus habitantes em recolhê-la e armazená-la, explicou o Guardian. Tal como Tuvalu, outros pequenos países e ilhas da Oceânia têm problemas idênticos – apenas um em quatro habitantes tem acesso a água potável canalizada, uma percentagem menor que a da África subsariana.
“Se este caminho persistir, milhões de habitantes de ilhas do Pacífico vão continuar a usar água insegura para beber durante várias gerações, com implicações profundas no crescimento económico, saúde pública, ambiente e direitos humanos”, explicou Peter Sinclair, coordenador de recursos aquáticos do Secretariat of the Pacific Communitt (SPC).
De acordo com o Guardian, existem fábricas de dessalinização e outras infra-estruturas de larga escala em várias destas ilhas, mas a falta de poder económico e combustível para as pôr a funcionar é comum a vários testes territórios.
Tuvalu acabou de inaugurar uma cisterna com capacidade para 288.000 litros, na ilha de Funafuti, que se junta a outra de 700.000, em Lofeagai. Estas infra-estruturas estão fechadas, para evitar a contaminação pelo sal da água e doenças como E-Coli. Em ambos os casos, elas estão ligadas a igrejas que, juntamente com as escolas, hospitais e edifícios governamentais, são usadas para armazenar água. Mas mais infra-estruturas são necessárias.
Paralelamente, estas cisternas são vistas como uma importante defesa contra as alterações climáticas, que estão a provocar épocas de chuva mais curtas e outros padrões climáticos erráticos. Uma das consequências é um risco mais alto de secas, como a de 2011, que levou Tuvalu a racionar a água.
Segundo o Guardian, esta tecnologia de armazenamento de água não é nova mas é importante e deverá ser exportada para outras ilhas. Peter Sinclair admite ainda que o sector privado, sobretudo ligado ao turismo, tem de fazer mais para ajudar a melhorar o acesso a água potável – doando tanques, bombas de água e outros equipamentos. E ajudar a financiar o desenvolvimento de novas tecnologias.
“É um desafio tremendo. No Pacífico, as soluções tecnológicas têm de ser replicáveis sem custos ou deixará as comunidades à mercê de uma solução que não é sustentável a longo prazo”, concluiu o responsável.
Foto: Stefan Lins / Creative Commons