Abelhas podem ficar viciadas em pesticidas que contenham derivados da nicotina



As abelhas, tal como os humanos, podem ficar viciadas em nicotina. A conclusão é de um novo estudo que pretendeu provar que os pesticidas com derivados da nicotina são prejudiciais para as populações abelhas. A nicotina pode afectar os centros de recompensa do cérebro das abelhas e ampliar as propriedades gratificantes do açúcar, o que pode causar o vício.

Na investigação, que foi publicada na prestigiada revista científica Nature, cientistas da Universidade de Newcastle revelam que as abelhas têm preferência por soluções de açúcar que são misturadas com vários pesticidas, como o imidacloprida e o tiametoxam – insecticidas da família dos neonicotinóides. Esta preferência indica que as abelhas podem ficar viciadas nestes químicos derivados da nicotina.

O estudo britânico revela que as abelhas não conseguem detectar a presença dos neonicotinóides em pequenas quantidades. Para duas variedades de pesticidas comuns, as abelhas tendem a preferir sacarose misturada com toxinas. Porém, Geraldine Wright, investigadora que liderou o estudo, indica que o efeito aditivo não foi testado, mas simplesmente referido como hipótese. “Tal como a nicotina, os nicotinóides amplificam as propriedades das soluções de sacarose onde estejam presentes. Como as abelhas pensam que é mais recompensador tendem a sugar mais sacarose da flor que tenha sido pulverizada com este tipo de insecticidas”, explica a investigadora, citada pelo Guardian.

Também na Nature foi publicado um outro estudo, que constitui a prova mais conclusiva de que este grupo de pesticidas, os neonicotinóides, são prejudiciais para as populações de abelhas. Investigadores da Universidade de Lund, na Suécia, realizaram experiências com abelhas para averiguar o efeito deste tipo de insecticidas. Os cientistas verificaram que as populações de abelhas que foram sujeitas aos pesticidas deixaram de crescer e produziram menos abelhas-rainha que as populações de abelhas que não estiveram sujeitas aos químicos. O estudo não encontrou, porém, provas de que as abelhas mais robustas, utilizadas para a polinização, tenham sido afectadas pelos neonicotinóides.

Maj Rundlöf, autora principal do estudo, indica que os impactos destes pesticidas nas abelhas selvagens são “dramáticos”. “Penso que é [o estudo] uma prova muito importante para a discussão de como os neonicotinóides utilizados na agricultura influenciam as abelhas”, defende.

Experiências anteriores com neonicotinóides revelaram-se inadequadas. A actual moratória europeia sobre o uso de um grupo de neonicotinóides em determinadas culturas agrícolas tem sido bastante criticada, mas as provas concretas de que estes derivados da nicotina prejudicam as populações de abelhas são difíceis de obter.

Foto: Treebeard / Creative Commons





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