Cientistas e governantes mundiais discutem gestão eficiente do nitrogénio em Lisboa



Representantes de 39 países de todos os continentes estão reunidos no Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, em Lisboa, para debater o nitrogénio, considerado “o padrinho das alterações climáticas”.

O encontro reúne cientistas e representantes de Governos e organismos internacionais, como a OCDE, UNEP, UNECE, FAO, WHO e WMO, e encontra-se mandatado pelas Nações Unidas para apresentar, nos próximos quatro anos, orientações à escala global e regional, com vista à melhoria da gestão do nitrogénio, no âmbito do projeto Towards INMS-International Nitrogen Management System e da TFRN – Task Force on Reactive Nitrogen.

“Estamos a reunir informação científica credível para mostrar aos políticos que melhorar a gestão do nitrogénio representa uma grande oportunidade para o mundo. Devemos avaliar a eficiência do uso do nitrogénio na economia à escala global, procurando formas de maximizar a eficiência dos inputs de nitrogénio necessários à produção de alimentos e energia”, afirmou em comunicado Mark Sutton, coordenador do projeto Towards INMS e investigador do Natural Environment Research Council, na Escócia, uma das entidades financiadoras.

As metas propostas pelos cientistas, e que já haviam sido divulgadas no relatório Our Nutrient World, implicam a redução das emissões em 20 milhões de toneladas de nitrogénio por ano, até 2020, traduzida numa poupança líquida para o Ambiente equivalente a €156 mil milhões/ano.

“A questão do nitrogénio está na ordem do dia, é bom que Portugal apanhe este comboio, mas que se posicione na primeira carruagem. Pertencemos a uma região – o Mediterrâneo – muito vulnerável à poluição por nitrogénio, e por isso, é importante aumentar a eficiência do uso do nitrogénio e reduzir os seus impactos negativos”, explica Cláudia Cordovil, professora do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e co-coordenadora do Task Force on Reactive Nitrogen.

O nitrogénio ou azoto (N) é o 5º elemento químico mais abundante no Universo, 78% do ar que respiramos é nitrogénio na sua forma pura. Quando transformado, este elemento químico é usado na agricultura (como fertilizante), na indústria e nos transportes. No entanto, quando em excesso, ele é também uma fonte de poluição que urge combater. Só na Europa, o custo da poluição com origem no nitrogénio está estimado entre €70 a €320 mil milhões/ano.

Fertilizantes mais verdes

Considerando que 50% a 70% do nitrogénio fornecido às culturas agrícolas se perde no ambiente, a melhoria da eficiência dos fertilizantes é a chave para reduzir a poluição.

“Estamos a trabalhar com os fabricantes em novos métodos de preparação dos fertilizantes que minimizem a libertação de nitrogénio para a atmosfera, através da sua decomposição mais lenta no solo, portanto melhor aproveitados pelas plantas, o que significa que os agricultores estarão a adquirir um produto com maior valor”, explica Mark Sutton, acrescentando que à medida que os agricultores usam melhor o nitrogénio, “tornam-se menos vulneráveis à variação dos preços dos fertilizantes”.

Este cientista escocês defende uma abordagem revolucionária ao problema: em vez de destruir o nitrogénio, devemos capturá-lo e reintegrá-lo no circuito produtivo, dando origem a novos fertilizantes. “Se pensarmos que, por ano, são emitidas para a atmosfera 40 mil milhões de toneladas de dióxido de nitrogénio, vemos que existe uma oportunidade de transformar um problema num negócio verde”, conclui, apontando a necessidade de desenvolver técnicas para capturar o nitrogénio de forma mais barata.

“Na Europa estamos a consumir 70% de proteínas para além daquelas que necessitamos para uma dieta alimentar saudável. Os nossos estudos indicam que se reduzirmos para metade o consumo de carne e de gorduras de origem animal teremos uma redução de 40% na poluição do ar e água”, remata Mark Sutton.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...