A banhos em Paris
A partir de 17 de Julho, vai ser possível nadar em três piscinas, instaladas no Bassin de la Villette (19º arrondissement). A mais pequena, para crianças, tem apenas 40 centímetros de profundidade, a segunda 1,20 metros e a mais profunda cerca de 2,20 metros. Com capacidade para receber 300 pessoas em simultâneo (cerca de 1.000 por dia ), as piscinas vão ter acesso gratuito e estarão a funcionar sob a supervisão de salva-vidas, até meados de Setembro.
Segundo o divulgado pelas autoridades municipais, a água utilizada para abastecer estas piscinas públicas é água do próprio canal Ourcq (que desagua no Bassin de la Villette, no nordeste de Paris). Um filtro impede folhas, resíduos sólidos e a entrada de peixes, enquanto sensores controlam a qualidade da água diariamente.
Na verdade, esta é apenas uma das etapas do projecto “Nager à Paris” (“Nadar em Paris”), um ambicioso plano que teve início em 2015 e que visa estimular e possibilitar a prática de natação em áreas públicas da cidade e ainda ajudar a demonstrar que Paris é a melhor candidata aos Jogos Olímpicos de 2024.
No ano passado, o programa de Verão “Praia de Paris” fez furor, com a criação de praias artificiais na margem direita do Sena e no reservatório de Villette, no norte da capital. Foram utilizadas cerca de 3.500 toneladas de areia, 50 palmeiras, 900 espreguiçadeiras e 450 guarda-sóis para montar todo o cenário de praia, mas continuava a faltar a água.
No século XIX, o Sena era o rio mais poluído do mundo. E se nos anos 1920, a população já se preocupava com a situação, só nos anos 1960 é que o rio começou a ser alvo de um verdadeiro processo de revitalização, através da construção de estações de tratamento de esgotos. Inicialmente eram 11, e em 2008 eram já duas mil.
Os níveis de enterococos e Escherichia coli (E. coli), as chamadas “bactérias intestinais”, encontrados nas análises às águas do Sena têm vindo a diminuir de ano para ano. E mesmo se a água ainda não pode ser considerada segura para nadar (a proibição de nadar nas águas do Sena mantém-se, assim como a multa para infractores), é um facto que a qualidade o rio Sena voltou a ganhar vida – já existem mais de 30 espécies de peixes nas suas águas – servindo de exemplo para outras cidades, uma vez que é a prova de que é possível despoluir um rio “dado como morto”.
Como disse Jean-François Martins, responsável pela área de Desporto do Município de Paris, em declarações à AFP, “o Bassin de la Villette é apenas uma primeira etapa, a seguinte é a do lago Daumesnil à Vincennes, em 2019. E depois de 2024, se ganharmos os Jogos Olímpicos, será o próprio rio Sena”, atrevendo-se mesmo a antever que um dia será possível nadar em frente à Torre Eiffel e ao Museu d’Orsay.
O sonho é antigo, já que em 1988, Jacques Chirac, então prefeito de Paris, já prometia que seria possível nadar no Sena “dentro de cinco anos”. Não aconteceu, mas está cada vez mais perto da realidade…
Foto: Cabinet d’architecte Patrick Charoin – Marina Donda