A cerveja já salvou a civilização e pode fazê-lo de novo



Sem cerveja, a civilização humana não existiria. Há 12 mil anos, a transição da raça humana de caçadores nómadas para aldeões agricultores contou com uma fonte segura de nutriente líquido que não a água. Essa era muito facilmente contaminada, muito difícil de purificar e um excelente propagador de doenças.

“A solução era beber álcool”, escreve o autor Steven Johnson no seu livro sobre a epidemia de cólera na Londres de 1854, transmitida por via de água contaminada. De facto, as pessoas podem não ter percebido que pôr água a ferver ajudava a matar os micróbios portadores de doenças, mas certamente descobriram que cair de bêbado era preferível a cair morto.

Apesar de a cerveja não ter sido a primeira bebida alcoólica a ser consuma (provavelmente cabe ao vinho essa distinção), o jornalista Tom Standage escreve em “Uma História do Mundo em 6 Copos” que a bebida era a mais fácil de fazer e armazenar em grandes quantidades.

Até ao século XIX, as cervejarias artesanais, de pequena escala, disputavam pela atenção e preferência do público – só Nova Iorque ostentava 48 cervejarias distintas em 1898.

Hoje em dia, em vez de consistir num substituto à água potável, a boa cerveja depende dela. Cerca de 90% do produto acabado é na verdade água, pelo que os fabricantes dedicam muito tempo a ponderar a sua natureza e segurança.

A cerveja contém apenas quatro ingredientes principais – água, malte, lúpulo e levedura –, logo o sabor e as características de cada um causa um grande impacto na bebida final. Naturalmente, quanto melhor for a água, melhor é a cerveja.

Ao contrário dos seus antepassados, os produtores de hoje compreendem a importância da água potável e estão dispostos a lutar por ela. A campanha lançada esta semana pelo Natural Resources Defense Council mostra isso mesmo – pretende reunir micro cervejarias em apoio pela Lei da Água Potável.

Aprovada em 1972, a lei tem sido lentamente restringida a respeito das correntes de água que protege – como resultado, a qualidade da água está a enfraquecer. Nos Estados Unidos, 55% dos riachos e rios estão em má condição, com níveis excessivos de nitrogénio e fósforo.

Matt Greff, dono da Arbor Brewing Company, em Ann Arbor, no Michigan, diz que só compreendeu plenamente a importância das leis de água potável depois de abrir uma cervejaria em Bangalore, na Índia. Tratou-se de tentar fazer cerveja num lugar onde não há normas rigorosamente nenhumas a serem aplicadas ao processo.

A cerveja não é a única indústria a depender de água limpa, mas enquanto empresas de pequena dimensão, as micro cervejarias têm um interesse particular na protecção das suas fontes locais. E, de certa forma, esta campanha pela protecção da água tem uma ressonância histórica: a cerveja pode, mais uma vez, ajudar a salvar a humanidade.





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