A dura vida de um mergulhador nos esgotos da Cidade do México



Numa metrópole como a Cidade do México, com 20 milhões de habitantes a produzir resíduos a todos os minutos, é imprescindível existir a figura do mergulhador dos esgotos, alguém que, preventivamente, descongestione manualmente os resíduos – muitas vezes inesperados – que impedem a água de circular, acelerando um trabalho que, feito por uma máquina, demoraria 15 dias.

Um desses mergulhadores é Júlio César, entrevistado ontem pela agência noticiosa AFP sobre o trabalho que realiza há 30 anos. “Achamos tudo o que possam imaginar, desde sacos de celofane até partes de carros”, frisa o mergulhador.

Vestido com um fato próprio, Júlio César trabalha rodeado de ratos, fezes e preservativos, um dia-a-dia duro mas indispensável para que esta megacidade, que produz 12.700 toneladas de resíduos por dia, continue a funcionar minimamente.

“O cheiro é desagradável, mas é tudo. Acostumamo-nos”, avança. “Quando entramos, com 10 centímetros a visibilidade já é nula”. Pelas características pesadas e suja da água, o mergulhador não utiliza botija de oxigénio, respirando através de um cordão umbilical ligado ao exterior.

Júlio César é monitorizado, de fora, por três colegas, comunicando através de um sistema de microfones e fones instalado no seu escafandro.

Trabalho de riscos

Como seria de esperar, este trabalho não é para todos e está cheio de riscos. “Uma gota de água que nos chegue a tocar é infecção pela certa”, frisa. Depois, há os pregos, vidros ou seringas que correm pelas águas contaminadas da Cidade do México, e que são um grande risco para a sua saúde.

O mexicano diz que a sua grande motivação é a “emoção de nunca saber o que encontro lá em baixo”, mas esta será uma profissão, felizmente, em vias de extinção. Segundo Sérgio Palacios Mayorga, pesquisador do Instituto de Geologia da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), esta função vai reduzir-se à medida que a população “aprender a reciclar o seu lixo e não o deixar na rua”, uma vez que este vai parar à rede de drenagem.

Nisto, a Cidade do México é uma bomba relógio, unindo uma população que não recicla ou coloca o lixo nos rios e ruas, causando inundações, a um número invulgar de pessoas a habitar num mesmo local: 20 milhões. A Cidade do México é mesmo a terceira metrópole do mundo, logo a seguir a Tóquio e Nova Deli.

Quando, no Green Savers, relatamos histórias como as de Júlio César, percebemos o quão evoluído estamos, em Portugal, no que toca à separação de resíduos, reciclagem e educação ambiental. Ainda que, como é óbvio, ainda haja muito espaço para progredir e inovar.





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