“A educação mata o campo… e a cidade”, artigo de opinião de Álvaro Cidrais*



A educação que temos (muito além dos currículos formais das escolas) mantém o êxodo rural e degrada a probabilidade de existência de melhores de condições de vida no futuro, quer no campo, quer na cidade. Cria convicções hoje infundadas. Gera comportamentos  aberrantes.

 Há vários anos que diversos estudos e especialistas demonstram a probabilidade de um ser humano nascido hoje no Ocidente desenvolvido(!) ter menos esperança e qualidade de vida do que um que tenha nascido há 40 anos. Os pobres viverão menos e pior, os ricos, viverão mais e melhor! Pouco importa o meio em que viva, seja rural ou urbano! Em muitos aspectos, estão a par.

Um paradigma educativo diferente (que vai muito além das escolas) pode ser a resposta que necessitamos para esta crise (aparentemente financeira) que vivemos, reflexo de uma sociedade que acredita que é mais poderosa que a Terra e o Universo. Puro engano.

Devido à educação e informação que possuem, as pessoas continuam a «fugir» dos campos (onde imaginam que têm uma vida aquém das  suas possibilidades) para as cidades (onde sonham com o El-dorado). É previsível a continuidade do esvaziamento dos campos que deveremos verificar no censo de 2011 e o aumento da densidade e das tensões nas cidades.

Mas este é o sintoma de um erro educacional e «pensamental» dos últimos 30 anos. De facto, o meio rural, em Portugal, garante, actualmente, melhores condições de vida que a maioria das área urbanas e periurbanas das áreas metropolitanas. Os rácios de bem-estar demonstram-no. Os testemunhos dos habitantes «urbanitas» em meio rural, também o comprovam. A vida tem mais sentido nestes espaços do que na extenuante pressão de trabalho emprego de Lisboa e Porto.

Todavia, o êxodo urbano tarda em revelar-se. Ou seja, o regresso aos territórios de baixa densidade não se verifica. As pessoas preferem o meio urbano com o medo de perder a segurança (muitas vezes inexistente) da vida num meio mais artificial, acreditam que os empregos e as oportunidades são melhores (e mais bem remunerados), adoram o consumo fácil que a cidade apresenta e desconhecem modos de vida confortáveis numa maior proximidade à natureza.

Tenho como certo que se as pessoas tivessem tido uma educação diferente estariam mais dispostas a viver vidas confortáveis no campo. Havia maior probabilidade de ter melhor campo e melhor cidade. As cidades como a Guarda, a Covilhã, Bragança e Vila Real, bem como os espaços rurais envolventes comprovam-no. Possuem melhores indicadores de bem-estar.

Se tivéssemos educado as pessoas para perceberem os benefícios da vida no meio rural, com menos trabalho e menos dinheiro, mas com mais tempo para ter outros prazeres e para aproveitar melhor a vida, numa relação mais feliz com a natureza, não teríamos um problema chamado êxodo rural nem a correspondente desvalorização da relação saudável (nos dois sentidos) com a natureza. Teríamos, sem dúvida, maior sustentabilidade integral.

É por este motivo que defendo que deveremos aproveitar as férias, as oportunidades de investimento em meio rural, a metodologia da Agenda 21 Local e os escuteiros para renovar a nossa terra ou, se quisermos, para garantir que a boa relação entre Terra e Humanidade se mantenha por mais anos, num conhecimento mais profundo do Rural. É também por este motivo que defendo, há mais de 3 anos, que não estamos só perante uma crise económica e financeira (desde 2007). Estamos efectivamente a colher os frutos de uma incapacidade de perceber o problema e de educar as gerações presentes e futuras para a preservação de vida humana na Terra.

Nunca será demasiado tarde para iniciar (ou reforçar, que é o termo mais correcto) esta batalha. Este é que é o desafio estrutural da actual geração, a base da solução para a crise da actualidade e das remanescentes futuras. Perante este novo paradigma educativo, o êxodo rural, como muitas outras dúvidas e problemas da actualidade deixam de ser preocupações. Simplesmente deixam de existir. Talvez a pobreza também.

 Tenhamos fé, na inteligência e decência das pessoas que votam, nas que empreendem e nas que nos governam. Esperemos que as demonstrem nos próximos tempos!

*Álvaro Cidrais é licenciado em Geografia e Mestre em Geografia Humana: Desenvolvimento Regional, sendo actualmente docente universitário na Universidade Lusíada de Lisboa, consultor/assessor de gestão e formador, trabalhando  como consultor independente em áreas relacionadas com a sua especialização. Foi ainda co-autor de dois livros com Xosé Manuel Souto, da Universidade de Vigo, designadamente “Planeamento Estratéxico de Mercadotecnia Territorial” e “História do Eixo Atlântico”.





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