A idade toca a todos: Chimpanzés perdem capacidades de uso de ferramentas à medida que envelhecem

Os chimpanzés perdem capacidades para usar ferramentas de pedra à medida que envelhecem, de forma semelhante ao que acontece com os humanos, que, com o avanço da idade, vão perdendo capacidades cognitivas e motoras.
A conclusão é de um estudo divulgado recentemente na revista ‘eLife’, desenvolvido por uma equipa de cientistas que analisou quase duas décadas de vídeos de uma população de chimpanzés-do-oeste-africano (Pan troglodytes verus), que reside na floresta de Bossou, na Guiné, parte da Reserva Natural da Cordilheira Nimba.
Esses chimpanzés são especialmente famosos por usarem pedras como martelos e bigornas para partirem as cascas duras e avermelhadas dos frutos de palmeiras-do-azeite (Elaeis guineensis) e acederam ao interior nutritivo.
Com base nos dados recolhidos sobre esse grupo de cinco chimpanzés – quatro fêmeas e um macho com idades entre os 39 e os 61 anos – os investigadores perceberam que os indivíduos mais velhos passavam menos tempo a usar ferramentas de pedra para quebrarem as nozes.
Além disso, notaram que alguns dos indivíduos mais velhos também se tornavam menos eficientes na escolha e utilização das ferramentas, demorando, por exemplo, mais tempo até conseguirem o resultado pretendido.
No entanto, e tal como acontece com os humanos, nem todos os chimpanzés envelhecem da mesma forma, com alguns a mostrarem défices cognitivos e motores mais acentuados do que outros.
“Estes resultados sugerem diferenças individuais significativas na forma como a idade avançada influencia os comportamentos dos chimpanzés selvagens”, explica, em nota, os cientistas, “de forma semelhante aos padrões variáveis de envelhecimento comportamental observados nas populações humanas”.
Dora Biro, da Universidade de Rochester (Estados Unidos da América) e uma das principais autoras do artigo, refere que, por se tratar de um estudo baseado em observação, não se sabe ainda ao certo “as razões específicas pelas quais a idade afeta a quebra das nozes”.
Contudo, salienta, os resultados levantam “questões importantes” sobre a forma como o envelhecimento influencia “a cognição e o comportamento” desses primatas em contexto selvagem.
“O usso de ferramentas é invulgar nos animais, possivelmente porque exige um conjunto de capacidades físicas e cognitivas, como planeamento, boa coordenação motora, compreensão das relações causais e identificação das propriedades físicas de objetos no ambiente”, detalha Elliot Howard-Spink, da Universidade de Oxford (Reino Unido) e investigador no Instituto Max Planck de Comportamento Animal (Alemanha).
O primeiro autor do estudo considera que “dado que muitas destas capacidades podem ser afetadas pelo envelhecimento, os comportamentos de uso de ferramentas dos chimpanzés selvagens podem estar vulneráveis à declínio associado ao avanço da idade”.
“Até agora não houve um estudo sistemático sobre como a idade influencia os comportamentos tecnológicos de animais selvagens, provavelmente por falta de dados de longo-prazo”, afirma.
Da equipa de investigação fez parte Susana Carvalho, do departamento de ciência do Parque Nacional da Gorongosa (Moçambique), e também investigadora do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB), da Universidade do Algarve, e do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO).