“A Natureza é o melhor sistema de saúde”: Responsável da ONU alerta que é preciso fazer “as escolhas políticas certas” para proteger as populações humanas e a biodiversidade



A Natureza fornece-nos uma miríade de serviços que são vitais para a saúde das populações humanas, além de suportar as redes de incontáveis formas de vida não-humana. Contudo, “a degradação do mundo natural está a fazer disparar os custos dos cuidados de saúde, afetando desproporcionadamente as pessoas mais pobres e mais vulneráveis”.

O aviso é feito por Inger Andersen, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, num artigo de opinião publicado pela organização ‘The Global Governance Project’.

“Não precisamos de ser médicos para percebermos as ligações entre um ambiente saudável e a saúde das pessoas. Simplesmente andar pela Natureza, respirar o ar fresco, escutar o chilreio dos pássaros ou o sussurro das folhas, e sentir o stress a deixar-nos”, aponta a responsável.

Contudo, para ela, “construímos o nosso mundo, cada vez mais urbano, sobre um modelo económico que erode o mundo natural e a sua biodiversidade”, e elenca que a Natureza nos dá ar para respirarmos, água para bebermos e solo no qual produzimos alimentos, além de colocar ao alcance dos humanos elementos essenciais para a criação de medicamentos.

“Para termos qualquer hipótese de alcançar uma cobertura de saúde universal, temos de priorizar políticas e ações que protejam e restaurem os ecossistemas, para que possamos tirar o máximo partido dos seus benefícios e minimizar os impactos negativos”, avisa Andersen, que lamenta que “ainda estamos longe de alcançar este equilíbrio”.

Citando dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a líder da agência ambiental das Nações Unidas diz que “quase um quarto das mortes registadas a nível global devem-se a ambiente pouco saudáveis que expõem as pessoas a riscos como a poluição do ar, da água e do solo”. E aponta que o Banco Mundial estima que todos os anos a poluição do ar custe mais de cinco biliões (trillion, em inglês) de dólares.

Andersen alerta também que estamos a perder a luta pela conservação da biodiversidade, com os especialistas a apontarem um ritmo de declínio sem precedentes nos registos históricos. “A humanidade alterou significativamente três quartos do ambiente terrestre e dois terços do ambiente marinho”, afirma, destacando que “a perda de biodiversidade prejudica a nossa capacidade para fornecer dietas diversas e nutritivas e a procura de novos medicamentos”.

Ainda assim, ela acredita que há motivos para ter esperança, visto que, um pouco por todo o mundo, os Estados estão a procurar reduzir a poluição que geram de forma a poderem minimizar os impactos sobre a saúde humana. “O enorme crescimento de movimentos de renaturalização demonstra o crescente reconhecimento da importância da Natureza”, refere, sublinhando que “os jovens em todo o mundo estão a exigir que protejamos o seu futuro”.

“Está na altura de fazermos as escolhas políticas e de investimento certas, quer imediatas, quer a longo-prazo, para aproveitarmos esse impulso”, e defende que é urgente “atribuir um valor à Natureza”, argumentando que “o Produto Interno Bruto é um indicador obsoleto que encoraja o crescimento perpétuo sem reconhecer a erosão do capital natural que suporta as nossas economias, subsistência e saúde”.

“O nosso planeta tem limites”, declara Andersen, e “temos de reconhecer isso nos nossos modelos económicos”.

Dessa forma, a responsável afirma que “temos de preservar a biodiversidade adotando formas de agricultura com menores impactos”, afastando-nos das monoculturas que ocupam grandes extensões de terra e abandonando o uso de químicos. “Encorajar as pessoas a abraçarem mais dietas à base de plantas pode também ser fundamental.”

“Existem centenas de formas de conservar a Natureza”, assegura Andersen, explicando que “os governos têm de demonstrar verdadeira vontade política, as empresas precisam de trabalhar dentro dos limites da Natureza e os cidadãos devem manter-se atentos”.





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