Última década foi a mais quente, mas com menos vítimas de desastres
A última década foi a mais quente desde que há registo, mas o buraco do ozono continuou a diminuir e o número de vítimas de catástrofes climáticas caiu, anunciou hoje a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
A agência meteorológica da ONU publicou um novo relatório para a década 2011-20, a coincidir com a 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) no Dubai, lançando alarme sobre as temperaturas, a subida do nível do mar e o degelo.
A década 2011-20 foi a mais quente registada, com temperaturas médias 1,1 graus acima da era industrial (1850-1900). O relatório alertou que na última década 39 países registaram recordes de temperaturas elevadas, contra 22 na década anterior (2001-2010).
Entre 2015 e 2020, ocorreram os seis anos mais quentes de que há registo a nível global, embora seja quase certo que 2023 os ultrapasse.
De 2011 a 2020, o nível do mar subiu a um ritmo global de 4,5 milímetros por ano, contra 2,9 milímetros da década anterior, uma aceleração que a OMM diz dever-se principalmente ao degelo do manto de gelo da Gronelândia e, em menor grau, ao degelo dos glaciares e ao aquecimento dos oceanos.
A espessura dos glaciares diminuiu cerca de um metro por ano durante a última década, de acordo com dados de 42 glaciares de referência, alguns deles já derreteram completamente. Em regiões como África poderão desaparecer glaciares, como nas montanhas Rwenzori, no Quénia, ou no monte Kilimanjaro, até 2040.
A OMM recordou ainda que, durante a década, a Gronelândia perdeu cerca de 251 milhões de toneladas de gelo por ano e o continente antártico perdeu cerca de 143 milhões de toneladas, uma perda 75% superior à registada nos 10 anos anteriores.
No entanto, os sistemas de alerta precoce para as catástrofes relacionadas com o clima, que a OMM pretende universalizar até 2027, parecem estar a resultar, com uma redução das catástrofes com grande número de perdas humanas, embora as perdas económicas continuem elevadas.
Do lado positivo, o relatório sublinha que, graças às medidas adotadas no âmbito do Protocolo de Montreal de 1987 para eliminar progressivamente os clorofluorocarbonetos (CFC) e outras substâncias que prejudicam a camada de ozono, a sua concentração na atmosfera foi reduzida em 11,5% em comparação com os seus níveis máximos em 1993.
Prevê-se que os valores do ozono nos polos, onde se localizavam os chamados “buracos” devido aos baixos níveis medidos da substância protetora dos raios ultravioleta do sol, regressem aos valores de 1980 até 2045 para o Ártico e até 2065 para o Antártico.
Outro dado positivo do relatório é a redução do número de vítimas de fenómenos meteorológicos extremos, como ondas de calor, inundações e ciclones. No entanto, a OMM adverte que, com o aquecimento global, a sua frequência aumentará.
A última década foi a primeira, desde 1950, em que não se registaram desastres naturais que causassem 10.000 mortes ou mais, o mais grave neste domínio foi o tufão Haiyan, que causou 7.300 mortes nas Filipinas em 2013. Na década anterior, o ciclone Nargis causou 138.000 mortes.
A agência da ONU recordou que as ondas de calor foram responsáveis pelo maior número de vítimas, por exemplo, 3.200 mortes em França em 2015, embora os números da atual década sejam muito mais elevados. Enquanto os ciclones tropicais causaram os maiores prejuízos económicos.
As catástrofes meteorológicas mais dispendiosas na última década foram os furacões Harvey, Maria, Irma e Sandy, nos Estados Unidos, que não superaram em termos de perdas o furacão Katrina em 2005.
A OMM notou o facto do financiamento público e privado para combater a crise climática ter quase duplicado entre 2011 e 2020, mas alerta para a necessidade de ser, pelo menos, sete vezes superior até ao final da presente década para cumprir o objetivo de não aumentar a temperatura mais do que 1,5 graus.