A verdade dos buracos: Investigadores resolvem o mistério dos túneis no fundo do mar
Quando os investigadores descobriram buracos no fundo do Mar de Bering, ficaram perplexos. Agora pensam ter encontrado o culpado, escreve o “The Guardian”.
Segundo a mesma fonte, durante uma expedição nas águas frias do Mar de Bering, entre a Rússia e o Alasca, no Verão passado, uma equipa de investigadores detetou linhas nítidas de buracos no fundo do mar. Mas não sabiam quem – ou o quê – os tinha criado.
Os investigadores do navio de investigação alemão Sonne puseram-se à procura de pistas. Analisaram várias centenas de imagens captadas por uma câmara rebocada sobre o fundo do mar.
As imagens revelaram fileiras de buracos ovais, cada um medindo cerca de dois ou três centímetros – como se algo tivesse feito um “pogo-sticking” no fundo do mar. Mas o mistério manteve-se – até agora.
A descoberta aconteceu por acaso. Vários animais foram observados nas proximidades e tornaram-se suspeitos. “A maioria das coisas era fácil de excluir”, diz Julia Sigwart, do Instituto de Investigação Senckenberg e do Museu de História Natural de Frankfurt. Os buracos eram demasiado pequenos para os ouriços-do-mar e tinham a forma errada para serem tocas de minhocas.
Foi então que um dos membros da equipa, Angelika Brandt, também do Museu Senckenberg, reparou em algo: um pequeno crustáceo.
A Angelika levanta-se, aponta para o ecrã e diz: “É aquilo! É o criador!” e depois saiu a correr da sala”, conta Sigwart.
Poucos momentos depois, Brandt regressou com um disco rígido de um computador externo e mostrou a todos um vídeo que tinha sido filmado 40 anos antes por um colega. Era um anfípode – um parente dos saltadores de areia que vivem na praia – da Antárctida, filmado em cativeiro a cavar uma toca na areia do seu aquário. Usando os seus enormes apêndices frontais, estava a retirar cuidadosamente a areia de um buraco e a amontoá-la numa pilha limpa, sem a deixar deslizar para dentro.
O anfípode antártico era muito parecido com o que Brandt avistou no Mar de Bering. “Quando vi o animal sentado naquele buraco, foi realmente um momento deja vu”, diz ela.
Os anfípodes do Mar de Bering ainda não foram apanhados a fazer os buracos, mas Brandt e os seus colegas pensam que provavelmente se alimentam de sedimentos em camadas ricas em nutrientes do fundo do mar e escavam túneis à medida que avançam.
Se forem parecidos com os seus primos antárticos, estes crustáceos de 2 cm de comprimento poderão também estar a usar as tocas para se reproduzirem. As fêmeas dos anfípodes têm bolsas onde criam as suas crias. Depois de nascerem, as larvas não flutuam como acontece com a prole de muitas criaturas marinhas, mas podem permanecer nas tocas dos pais durante semanas ou mesmo meses.
“Ter uma toca é uma forma de aceder a alimentos, obter proteção contra potenciais predadores e é um local seguro para criar os filhos”, diz Sigwart.
As tocas são importantes não só para os próprios anfípodes, mas também porque criam nichos para outras espécies e são provavelmente importantes para a biodiversidade nas planícies abissais. “A maior parte dos animais das profundezas do mar são muito pequenos – talvez com um milímetro de tamanho”, diz Sigwart. A essa escala, uma toca com 30 cm de comprimento é uma montanha. “Se somos minúsculos, mesmo pequenas alterações na topografia teriam um impacto enorme no nosso habitat e na forma como interagimos com o nosso ambiente”, afirma.
A descoberta deu aos investigadores a esperança de poderem fazer progressos na decifração de muitas outras marcas misteriosas na lama do fundo do oceano. “É espantoso a quantidade de atividade que existe no fundo do mar. Está cheio de vestígios e buracos”, diz Sigwart