ADN no mar ajuda a seguir migração de peixes tropicais para águas mais frias



À medida que os oceanos aquecem, peixes tropicais estão a abandonar os seus habitats tradicionais e a deslocar-se para águas temperadas em busca de refúgio. Um estudo liderado por investigadores australianos revela agora uma nova forma de acompanhar esses movimentos: a análise de ADN ambiental, recolhido diretamente da água do mar.

“Estamos a assistir a uma redistribuição massiva da vida marinha. As alterações climáticas já levaram mais de 12 mil espécies a mudarem de localização, tanto em ambientes terrestres como aquáticos”, explica a investigadora Chloe Hayes, da Universidade de Adelaide, autora principal do estudo publicado na revista científica Diversity and Distributions.

Na costa leste da Austrália, uma das regiões marinhas que mais rapidamente aquece a nível global, a chegada de novas espécies tropicais aos recifes temperados tornou-se cada vez mais frequente. “Todos os anos surgem novas espécies de corais e peixes nas águas de Sydney, e tudo indica que este fenómeno se irá intensificar com o agravamento das alterações climáticas”, acrescenta o professor David Booth, da University of Technology Sydney.

Até agora, os biólogos marinhos têm recorrido sobretudo a censos visuais — realizados por mergulhadores — para monitorizar as comunidades de peixes. Mas, segundo os investigadores, esta metodologia não é suficiente para captar toda a diversidade em movimento.

“Muitas das espécies que chegam primeiro são pequenas, raras ou tendem a esconder-se, o que faz com que passem despercebidas nas observações tradicionais. Podemos estar a subestimar o número de espécies em migração”, alerta Angus Mitchell, coautor do estudo.

Foi a pensar nessas limitações que Chloe Hayes recorreu a uma técnica inspirada na ciência forense. “Todos os organismos deixam vestígios no ambiente — seja muco, escamas ou dejetos — e tudo isso contém ADN. Ao recolhermos e filtrarmos amostras de água do mar, conseguimos identificar as espécies presentes numa determinada zona, mesmo sem as ver diretamente”, explica.

A equipa testou esta abordagem ao longo de 2.000 quilómetros da costa australiana, desde os recifes tropicais da Grande Barreira de Coral até às florestas de algas de Nova Gales do Sul. Os resultados foram reveladores: o ADN ambiental (eDNA) permitiu detetar espécies tropicais que nunca tinham sido registadas em zonas temperadas, como o cirurgião-zebra ou peixe-papagaio.

“Estas são exatamente as espécies que escapam à observação humana. O eDNA oferece-nos uma ferramenta poderosa para detetar movimentos silenciosos na biodiversidade marinha”, afirma o professor Ivan Nagelkerken, líder do projeto.

Ainda assim, os métodos visuais continuam a ser valiosos — sobretudo para identificar espécies temperadas. Mas a combinação das duas abordagens revelou-se mais eficaz do que qualquer uma isoladamente.

“Combinando os censos visuais com a análise de ADN ambiental, conseguimos um retrato muito mais completo e preciso daquilo que está a acontecer nos nossos oceanos”, conclui Chloe Hayes. “É a forma mais clara que temos, até agora, de perceber como as alterações climáticas estão a transformar os ecossistemas marinhos.”






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